Seu voto machuca?


Eu até queria falar sobre outro assunto, mas lamento, atualmente sou monotemática. O único tópico que vem à minha mente são as eleições. Tô no supermercado pago minhas duas sacolinhas dá mais de cem reais e já penso nas eleições. Tô no banho, tá bom, mas lembro do preço do gás e pá! Lá estão as eleições na minha mente. Ligo a torneira da cozinha e lembro dos não sei quantos produtos cancerígenos que tem na água e lá vem as eleições saltitando nos meus pensamentos. Mastigo uma alface, lembro dos agrotóxicos e consequentemente das eleições. Um idiota para em fila dupla, atrapalha o trânsito e já teorizo em quem ele vota. Minha filha me pergunta porque o moço tá pedindo dinheiro na esquina, eu explico e invariavelmente o assunto adentra as eleições. Todas as pessoas minimamente atentas estão com a cabeça no próximo domingo. Os olhos do mundo estão voltados para nós nesse final de semana.

Dia desses li uma frase na minha bolha política do instagram que achei tocante. Dizia: Não diga a alguém que o ama e depois vote em quem o machucaria.

As eleições de domingo são exatamente sobre isso. Temos de um lado um candidato que exalta a violência. E não, não é exagero, não é figura de linguagem, é violência. Mesmo que fosse só força de expressão, o que não é, ainda assim seria violento. Nada justifica esse discurso, absolutamente nada. Esse pleito é a disputa entre a civilidade e a barbárie. A discussão entre os campos conservadores e progressistas, a direita e a esquerda, são outros quinhentos que não estão em jogo nesse momento.

Confesso que sinto um calorzinho no coração quando vejo a união em prol da civilidade em oposição ao discurso de ódio, me mostrando que nem todo mundo foi contaminado pela cólera que tomou conta do país. Nunca pensei na minha vida que ia ficar feliz em saber que o Amoedo vai votar no Lula. Nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginei que Alckmin se tornaria um picolé de chuchu tão palatável. To me tornando quase a fã número um da Simone Tebet. Jamais me ocorreu que eu defenderia Carmen Lúcia com unhas e dentes. Quem diria que Alexandre de Moraes teria tantas chances de ser meu malvado favorito? Tudo é uma questão de escala e perspectiva. A noção do que é ruim, se mostrou ser tão pior do que o esperado que o antigo ruim virou o atual quase ótimo.

É muito acolhedor nessa reta final saber que tantas pessoas, assim como eu, consideram inaceitável o que vem acontecendo com esse país. Entendem que cruzamos uma linha imaginária e estamos diante de um paradoxo onde a intolerância é tão grande que não podemos mais tolerá-la. Se não colocarmos freios nesse carro desgovernado, mesmo que com o calcanhar, ele descerá precipício abaixo. Quando eu fico sabendo que um reaça de carteirinha assumiu o voto em Lula, dou pulos discretos de alegria, pra não constrangê-lo, e canto na minha mente “Lula lá renasce a esperança” do mesmo jeito que eu cantava no fiat 147 da minha mãe em 1989.

A ansiedade é o grande sentimento da semana. Os próximos dois dias serão os mais longos deste século. Se você por acaso chegou até aqui e está indeciso, ou pensando em não votar. Lembre da frase que eu li, talvez o seu voto ou o seu não voto tenha potencial para machucar quem você diz amar. Talvez sua escolha ou omissão, eleja quem defende a violência, justamente por isso não há o que pensar, não há o que vacilar. Não há dúvida nessa escolha e se houver, lembre de seus amores, aqueles que pensam e são diferente de você, aqueles que para o atual presidente não precisavam existir.

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