Nem soa absurdo

 

Final de tarde chego para buscar minha filha na escolinha e vejo na calçada um homem e uma mulher conversando ao lado de seus carros. Pelo que entendo, acionam os seguros porque tinham colidido os veículos. Aparentemente tudo muito civilizado. Não os reconheço como pais da escola, mas estavam ali parados bem na frente da porta, ocupando as “nossas” vagas que não são nossas, são locais de estacionamento permitido na movimentada via.

Entro na escolinha e aguardo trazerem minha filha. Logo em seguida entra uma outra mãe e também espera o filho. Ela, curiosa, pergunta ao porteiro. 

- Deu confusão aí?

Ele responde:

 

            - Sim, mas foi um pouco mais lá pra trás e os dois pararam aqui na frente, não sei porque.

Acho interessante que tenham colidido mais pra traz e parado justamente na frente de uma escolinha bem na hora da saída dos alunos. Eu, então, comento o óbvio ululante com entonação de quem fez grande descoberta:

 

        - Ah não são da escolinha!

O porteiro responde:

 

        - Não, só pararam aqui na frente pra se resolver mesmo.

A outra mãe diz:

 

        - Que bom rsghkhfdghgddjsdllllgsdhdgjhsisdisfo…

Eu não entendo e peço pra ela repetir:

 

        - Que bom, porque no carro dele tem um imenso adesivo de um candidato a deputado pró armas.

Então, respondo:

 

        - Bom nesse que caso que bom que não é pai da escola e tomara que se foda!

Ela dá uma risada acolhedora de quem teve seu pensamento complementado, aquele pensamento que quando a gente tem nunca está muito segura se pode verbalizar ou se está diante de alguém armado. Eu penso que talvez se eu tivesse tido algum tipo de abalroamento com um cidadão de bem, pró armas também procurasse um lugar com fluxo grande de entrada e saída de gente como a escolinha para me sentir mais segura para resolver a questão.

As crianças chegam brincando, conversando alto. Nós calorosamente as abraçamos, comentamos que no dia seguinte será aniversário de um coleguinha. Nos despedimos, saímos felizes de reencontrar nossos filhos e não presenciar um tiroteio ou assassinato na frente do estabelecimento. Que tempos são esses que isso não soa nem tão absurdo assim?!