A realidade do sonho

 

Olha, vou dizer: não tá fácil! Essa coisa de ser adulta responsável é bem desgastante. Eu poderia atribuir esse meu sentimento “apenas” à política, mas entendo que o ser humano é um ser político na complexidade de sua existência, onde todas as suas ações refletem nos outros e no universo. Ou seja, estar nesse mundo, quer nós tenhamos noção ou não, é um ato político.

Depois de domingo passado, me deu um certo desânimo. Meus companheiros de causa tentam trazer energia e lembram que esmorecer não é uma possibilidade, porque a gente tá fud*d@ pra c@ralh@ e se as coisas assim continuarem estaremos mais fud*d@s ainda, se é que isso é possível. Tento botar um ânimo nesse corpo e me lembro que a Damares foi eleita. Porr@ a Damares! Daí desesperanço um tantinho, mas tomo um café orgânico com coca cola zero, um rebite socioambiental democrata capitalista, pra dar um gás e sigo em frente.

Não estou em posição de desanimar muito. Tenho duas pequenas meninas pra ajudar a ser gente decente, que me fazem querer acreditar que um mundo melhor é possível. Aliado a isso eu e meu marido estamos fazendo uma reforma em casa, embora eu quisesse fazer uma reforma no mundo inteiro, estamos fazendo em nosso lar, já que é o que está ao nosso alcance nesse momento. Pobre dos fornecedores que precisam negociar comigo. Me muno da energia acumulada devido ao café com coca cola zero, à indignação e à vontade de ver um mundo melhor, reclamo dos preços das coisas e peço desconto em tudo que eu preciso comprar.

Nunca tinha me ocorrido que aberturas, portas e janelas, fossem bens tão preciosos. Aliás o mais bizarro é que a abertura é cara, se for com fechadura é mais cara ainda, o que é um paradoxo. Você precisa de abertura para abrir, mas com fechaduras para poder fechar. Minha cabeça anda em looping semântico com esses contra termos arquitetônicos.

Atualmente, estamos vivendo dois adultos, duas crianças e duas gatas em dois quartos, um banheiro e um escritório. Local da casa onde temos abertura e fechaduras. Nossa cozinha, um banheiro e nossa sala de estar estão sendo reconstruídos. As gatas que desde o nascimento de nossa primeira filha, nunca mais haviam dormido na área dos quartos foram promovidas. Ganharam casinhas, mas obviamente dormem por cima das camas e da gente. Pra mim não é exatamente um incômodo, por que estou há uma década treinando dormir sendo interrompida, dormir com gente dormindo sobre mim.

Noite dessas eu sonhei, aqueles sonhos super realistas que a gente acorda se perguntando se aquilo realmente está acontecendo. No meu sonho eu corria, não sei se do país, das aberturas, da reforma ou em direção a um mundo melhor e minha barriga sacudia por baixo da camiseta, mas ela sacudia mais rápido do que a marcha que eu imprimia. Despertei! Embora eu estivesse ali parada na cama, de fato minha barriga sacudia por baixo da camiseta, menos pelancuda do que no sonho. Um segundo depois me dei conta que tinha uma gata sentada em cima da minha barriga coçando a orelha com a pata, tal qual um cachorro, o que fazia minha barriga vibrar. Assim comecei o dia: com transferência de energia felina, pronta para sorver o rebite socioambiental democrata capitalista e encarar a vida.

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