Um - Três - Confirma

 


Essa semana, a última antes das eleições, meus vizinhos canhotos começaram a ficar mais desinibidos. Até então, só víamos por aqui, estendidas nas janelas, bandeiras do Brasil com seu simbolismo que nos foi roubado, mas nos últimos dias os ventos mudaram e tem sido estufinha de coração ver alguns corajosos estenderem bandeiras do Lula, do PT e de deputados de esquerda.

Dá até vontade de bater nas portas e dizer: “Vem aqui ser amigo de mais uns vizinhos que também acreditam num Brasil melhor. Vamos tomar uns bons drinks e trocar uma ideia já que você não acredita em mamadeira de piroca e nem acha que a economia vai bem. Que tal organizar uma excursão para ir votar, nos sentirmos seguros e ter a certeza que estamos bem acompanhados? Bora lá apertar aquele 13 confirma com a maior certeza que habita na ponta desses dedos e pegar de volta orgulho nacional que nos foi usurpado!”

Tô feliz com a vizinhança! Ainda que escassa, parece aguerrida. Começando a tomar coragem de se posicionar. Tô achando bonito. Alimenta a minha esperança e acalenta essa mente ansiosa que vos fala.

Não vejo a hora de no domingo, sozinha ou bem acompanhada ir lá naquela urna eletrônica apertar com toda a força o 1 e o 3. O meu dedo com aquela unha pintada de vermelho vivo, vermelho reluzente, vai apertar se esparramando com toda sua ponta na tecla, mas esparramando não como algo que derrete e sim como quem cerra os dentes e fala sem articular a mandíbula. Com aquela mesma intensidade que as pessoas que trabalham com identificação aplicam nas nossas falanges quando vão pegar a digital, que dá impressão que se não apertam a pontinha do dedo até ficar vermelho o negócio não fica registrado. O braile das teclas 1,3, confirma vai ficar ali gravadinho por cima das minhas digitais. Tô pensando, inclusive, em apertar o um com o dedão, o três com o indicador e o confirma com o dedo médio por todo o simbolismo que o dedo do meio carrega.

Vou apertar as teclas com a raiva que, contra a minha vontade, tá aqui sendo cultivada, adubada e em farto crescimento há mais de quatro anos. Vou concentrar na pontinha dos dedos a energia de todas as barbaridades ditas por bolominions que eu não retruquei por falta de saco, por consideração a outras pessoas que não são, mas mantém relação mandatória com quem é, ou por medo de retaliação. Toda aquela energia que eu guardei ao sair de grupos de whastapp sem mandar textão, porque achei que não valia a pena discutir com gente tacanha.

A energia que vou despender é parecida com a de fechar uma tampa que teima em não encaixar, mas é dali. Na urna, no fino fio democrático que ainda há, darei resposta a cólera que eu adoraria não sentir, mas instalaram em mim. Simples assim: um – três – confirma.

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