Os atrapalhantes

 

Época de eleições é um momento de ebulição, de movimento. Antigamente se convivia com um mar de santinhos, espalhados pelo chão, mas com o tempo e com as multas as pessoas envolvidas em campanhas parecem ter se convencido que essa estratégia de encher a cidade de sujeira, não era assim tão efetiva. De fato caminhar sobre a foto do candidato, não parece eleger ninguém. Hoje em compensação convivemos com os santinhos todos entulhados dentro das caixinhas de correio.

Aliás, desde que a vida ficou mais eletrônica, as caixas de correios só são usadas de dois em dois anos e deveriam ser chamadas caixas de santinho de candidato. Tem dias que abro a caixinha e me pergunto como ela não explodiu com tantas ideias opostas confinadas em um espaço tão pequeno. Talvez, seja o encarte do supermercado que crie uma barreira separando os retrógrados dos revolucionários. Ah, deve ser isso, sim. O mercado sempre mediando as relações. Agora que escrevi parece óbvio!

Uma estratégia de campanha que tem me intrigado é a de cravejar canteiros com bandeiras, fazendo pleft, pleft, pleft com o vento, posicionadas estrategicamente nas rótulas e esquinas, impedindo o motorista de ver o pedestre ou o carro que vem do outro sentido. Uma maravilha! A pessoa quase sofre um acidente graças ao candidato que ela nem iria votar, mas talvez grave o número ou a cara do vivente, não por merecimento dele, mas pelo incômodo do momento. Perto da minha casa, tem uma rótula que desde o início oficial da campanha cada vez que eu chego nela, praticamente faço roleta russa quando vou passar. Fico ali esperando o cenário ideal, aquele momento em que o vento empurra as bandeiras para o lado que menos atrapalha a minha visão e não vejo nenhum carro ou pessoa no meu caminho. Nunca tenho muita certeza se realmente posso atravessar, mas tenho certeza do nome do candidato esvoaçante que tapa minha visão. Aquele que não ganhará meu voto porque já está me colocando em risco, antes mesmo de ser eleito.

O horário político tanto no rádio, quanto na televisão também desperta a minha curiosidade. A maioria dos candidatos tem um tempo escasso e esse tempo é usado quase como uma agressão ao eleitor. A pessoa vai lá falar seu nome e seu mote de campanha, acho que fica angustiada, ansiosa com o tempo curto e vira praticamente um xingamento. Eu pessoalmente, desligo o aparelho eletrônico, porque não quero ter a impressão que tem alguém me dizendo alguns desaforos, por mais que seja apenas um nome e um número, ainda assim o tom faz com que soem como insultos. A que ponto chegamos que ao relembrar as propagandas do falecido Enéas, parece que ele era quase gentil e ajuizado?

Tenho a sensação (provavelmente não é uma sensação e sim uma certeza) que a maioria dos concorrentes quer apenas ser lembrado, não necessariamente por seus bons feitos. Posso afirmar com segurança que eles não fizeram o jardim B com a Prof. Taci, professora da minha filha mais velha, que dizia aos ajudantes do dia e os ensinou desde a mais tenra idade: Ajudante não é atrapalhante!

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