Médicos e Mecânicos

 

Acho interessante a proximidade que há na sociedade contemporânea entre os médicos e os mecânicos. Eu poderia ser rasa e dizer que os médicos são os mecânicos do corpo humano. No entanto, essa convergência se dá muito mais por ambos serem detentores de um conhecimento que nós, reles mortais de humanas, não temos do que pelo desenvolvimento de ofício em si. Claro, há o Google, mas os campos são tão técnicos que o oráculo moderno nos dá apenas alguma noção bastante superficial sobre o que ocorre em nossas máquinas sejam elas biológicas ou mecânicas.

Me lembro de quando tive cálculo renal, enquanto eu estava hospitalizada o meu nefrologista resolveu me explicar algo sobre a formação dos cálculos e ele dizia: “os níveis de potássio descem, os de cálcio sobem” com uma naturalidade incrível. Fazia gestos com as mãos tentando indicar algum tipo de nível e eu fazia cara de quem entendia tudo. Quando ele saiu do quarto minha mãe me perguntou:

 

            -Tu entendeu o que ele falou?

Ao que respondi:

 

            - Claro que não, mas não ia deixar um homem bonito desses que cessou com a dor que me atormentava há meses pensar que eu sou burra!

Minha expressão de “tô entendendo tudo” naquela ocasião não é muito diferente da que fiz essa semana para o meu mecânico quando meu carro teve um problema. Ele me explicava, me mostrava o motor e eu fazia aquela cara de quem tá dominando o assunto, sem entender absolutamente nada. Já diria uma amiga: sou meio burra pra umas coisas, mas disfarço bem. Fazer cara de quem tá compreendendo é até sinônimo de educação com o profissional que está ali se esforçando pra te explicar algo ininteligível.

Certa vez minha avó fez um exame de imagem para saber se tinha um tumor. Eu fui encarregada de buscar o resultado. Minha mãe, ansiosa, me perguntou por telefone o que dizia no laudo do exame. Respondi que dizia que eu não era médica ou técnica em radiologia. Essa foi mais ou menos a mesma resposta que dei pro meu marido quando ele me perguntou o que nosso carro tinha, depois que eu li a mensagem do mecânico com o diagnóstico e orçamento.

Confio nos meus médicos e no meu mecânico muito mais por empatia, referências, do que conhecimento de causa. No quesito inteligência emocional me garanto, já no conhecimento técnico dessas áreas nem o Google me salva. Não pretendo fazer algum curso para compreender o que me dizem, preencher essa lacuna de conhecimento, prefiro seguir me especializando em intuição, bons contatos e leitura de seres humanos. Não me interesso muito em como as máquinas funcionam, apenas se ela funcionam e dou vivas porque há pessoas legais que se interessam e se especializam no mecanismo de funcionamento! No fundo sou uma idealista, que por mais que a humanidade teste minhas crenças, ainda acredito nas pessoas.


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