Aguardando a primavera

 

Vivemos em um país rachado. Somos uma nação desunida. Parece que mais nada pode fechar a enorme fenda que se abriu entre nós. Dois lados totalmente desconectados, separados por um muro imaginário que quando atravessado por um avisado acaba em óbvio conflito. No dia a dia estamos ali, todos lado a lado, tropeçando uns nos outros. O discurso dual, raso, que ignora a complexidade do universo é lenha na fogueira. A divisão é tão profunda que convivemos entre o aceitável, que é um espaço bem amplo, e o inaceitável, a barbárie, onde tudo que é diferente precisa ser extirpado, ter o “mal” cortado pela raiz. Assim andamos pelo paço público, trombando e desviando de quem acredita que o mundo seria um lugar melhor sem nossa presença e que se para isso for necessário nos tirar do mundo, tá tudo bem.

Mas será que realmente não há mais nada que una essa nação fissurada? Definitivamente símbolos nacionais, fé, futebol, música e orgulho da triste pátria não fazem mais essa função. Talvez, a única coisa que nos traga unidade nesse momento é o compasso de espera. Todos estamos esperando a primavera. Todos estamos esperando para ver o que vem depois. Desde os destemidos que trajam vermelho em qualquer lugar até os que desavergonhadamente empinam bandeira nacional como se fossem só suas.

No compasso de espera, uns se preparam para dançar felizes no próximo Carnaval, ou se proteger com os escudos que tiverem. Outros aguardam para saber se a sua pátria armada eliminará seu inimigo imaginário em um culto de sangue legitimado ou ilicitamente forjado, não interessa a forma apenas que suas vontades mais pútridas sejam contempladas.

Todos, sem exceção, eu, você, quem empunha flor, quem empunha arma, quem é dono de verdades absolutas, quem entende a complexidade do universo, quem tem fome, quem come caviar, todos nós estamos em compasso de espera, aguardando a primavera. Se olharmos para as primaveras históricas do mundo saberemos que elas não seguem necessariamente os movimentos da terra e do sol. Podem tanto vir antes do verão, do colorido, do sol a pino, quanto antes do inverno, do cinzento, do coração gelado.

Aguardemos!

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