Túnel do Terror de Adulto

 

No meio da década de 1990, surgiu uma tendência de entretenimento meio bizarra. Eram os túneis do terror. Eles eram montados em shoppings e era programa mandatório para os adolescentes. A ideia consistia, basicamente, em gastar dinheiro para tomar susto. A gente entrava em fila indiana, por uma abertura coberta com uma cortina preta e ia andando por um corredor cheio de desvios para não deixar claro onde era a saída. Por esse percurso, havia pessoas fantasiadas de monstros do tipo zumbis, vampiros e bruxas assustando os pagantes. O túnel era todo preto, decorado com teias, esqueletos que caiam do teto e iluminação horripilante, difusa. Dava correria e gritaria. Depois saímos alguns prometendo que nunca mais faríamos isso, o que geralmente era uma mentira, outros dizendo que voltavam no outro dia pra trazer a prima, a amiga porque elas precisavam ter aquela experiência.

Os adolescentes daquela época agora são adultos que regulam de idade comigo. Então, amigos dos trinta e muitos e quarenta e vários, embora pensássemos que nunca mais viveríamos aquela sensação, já havíamos passado dessa fase, o Brasil de 2022 reinventou o túnel do terror para nós. Foi rebatizado, agora chama supermercado.

A estética é diferentona, não apela pra penumbra. Trabalha com o conceito de luz branca, aquela que faz a gente tomar susto com o próprio reflexo no espelho. Mantém o conceito de corredores com desvios. Quando chegamos ao final de um corredor em vez de cair um esqueleto do teto, nos deparamos com um cartaz com dizeres “Promoção: Leite R$7,15”. Dá um aperto no coração, uma vontade de sair correndo e gritando, a mão sua frio. Você tenta desviar, mas se dá conta que em casa tem uma criança que toma aquele líquido. Você, então, lembra que a gasolina baixou de R$7,00, cogita dar para a criança achocolatado com gasolina, mas talvez faça mal. Depois dá um rápido google pra saber o preço de uma vaca, conclui que não há solução e quando vê a mão já tá com a caixinha colocando ela dentro carrinho. O caminho continua e você toma mais um susto descobrindo que pé e pele de galinha passaram a ser vendidos com status de filet mignon. Lê um cartaz que diz “ossos são vendidos, não doados”. Sente taquicardia. Nessa hora, a solução é correr para o caixa e sair daquele lugar.

Já no caixa você começa a passar os poucos itens que pretende adquirir. Cada vez que o código de barras passa pelo leitor e faz aquele barulhinho, você segura a respiração. Vê na tela do caixa a soma total dos produtos atingir os três dígitos com facilidade. Contendo as lágrimas você paga e pega suas quatro sacolinhas, que escorregam nas mãos suadas de nervoso. Com intuito de diminuir as palpitações que teimam em se fazer presentes no coração você usa a técnica de inspirar o ar pelo nariz e soltar pela boca (e ele meio que sobe de volta para o nariz por causa da máscara).

Aliviada, você se dirige para a saída. Pensa que o pior já passou e que no fim valeu a pena, afinal você comprou leite por R$7,15 e não R$7,99. Diante disso, tomada pela adrenalina liberada durante a aventura, pega o celular para avisar a amiga da “promoção” imperdível de leite que você achou.

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