Que futuro?

 

Depois dessa década de popularidade do whatsapp, já deu pra entender de forma geral que a possibilidade de criar grupos é uma ferramenta de m*rda. Com raras e honrosas exceções só serve para deixar claro que as pessoas não tem habilidade de expressão escrita e interpretação de texto. Talvez as gerações que já nasceram nessa era consigam desenvolver a habilidade de lidar com essa tecnologia de forma menos tacanha do que a maioria de nós adultos lidamos.

Dá para contar nos dedos os grupos que todos os integrantes entendem perfeitamente o propósito de existência do mesmo e não se excedem, não tocam em assuntos que não pertencem aquele universo, não dizem coisas que possam ofender outros membros, não extrapolam seus piores pensamentos como se isso fosse normal.

Grupo de família é pra mandar foto fofa, dar parabéns por aniversário e conquistas pessoais, se fosse para falar de política se chamaria “Grupo da Família para Falar de Política”. Grupo de trabalho é para falar de trabalho sobre o trabalho no horário de trabalho se fosse para mandar mensagem em qualquer horário se chamaria “Grupo de Trabalho Análogo a Escravidão”. Grupo de mães e pais de escola, é para falar sobre assuntos da escola se fosse para falar mal de equipe diretiva, professores ou alunos seria “Grupo de Pais e Mães para Linxamento Virtual da Comunidade Escolar”.

Esse último é dos que mais me incomoda, porque eu pertenço a três. Dois pequenos, das turmas das minhas filhas, onde por sorte as pessoas são bem educadas, e um de toda a escola da minha filha mais velha. Esse é uma tristeza, não posso silenciar, nem sair porque muitas vezes são colocadas informações importantes sobre o funcionamento geral da escola, mas tem dias que eu penso que ele deveria ser investigado pelo ministério público, ou delegacia de proteção à criança e adolescente. Às vezes quando olho tem mais de cem mensagens. A primeira começa com alguma mãe ou pai relatando algum problema, e daí em diante é um bando de desvairados inflamando chamas raivosas contra a instituição. Parece que de um lado somos nós, pais, e de outro a escola, como se não tivéssemos desenvolvendo um trabalho conjunto. Diria que nesses dias de polêmica quando uns incitam outros contra a instituição é quase lucro, porque quando envolve algum problema entre alunos, a um linxamento digital contra o “meliante”, o “ladrão”, o “agressor”( sim, já se refiriram a crianças de 8, 9, 10 anos com esses substantivos). Chegam ao ponto de pedirem para colocar foto do dito menor no grupo com mais de 238 participantes para divulgarem a cara do “criminoso”. Por sorte nunca ninguém foi tão longe, acho que ainda há uma noção de que não se pode expor um menor, mas não sei por quanto tempo.

É como se acendessem uma fogueira digital e queimassem crianças vivas ali. Já recebemos até aviso da direção da escola, equipe de psicólogas e assistente sociais pedindo para que esse comportamento não se repita que isso fere o ECA, mas não tem jeito e aí de quem queira apaziguar os ânimos, é queimado junto. É “essa gente de direitos humanos”. E eu não posso sair desse ambiente hostil, porque preciso das informações que ali são postas e são úteis, mas me preocupa imensamente saber que esses cidadãos de bem procriaram. O futuro é amanhã e as crianças são o futuro. Que futuro?

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Fica bem 2023

A pontezinha do Sakae's

Rituais de final de ano