Pedalando contra o vento, eu vou!

 

No dia que anunciaram que teria um super ciclone em Porto Alegre, naquele dia que as autoridades mandaram todo mundo ficar em casa a partir do final da tarde, eu tive a genial ideia de dar uma pedalada na orla do Guaíba. Deixa eu explicar melhor. Costumo pedalar na orla a título de atividade física visando única e exclusivamente ser um pouco mais saudável. Do fundo do meu coração, se eu pudesse ou me permitisse escolher, jamais faria exercício. Sempre optaria por um sofá e algo como um donuts, mas isso não é viável já que a proposta é permanecer por um mais um tantão de tempo nesse ambiente que tornamos hostil, chamado planeta terra. Já me apeguei aos entes queridos, a essa viagem psicodélica chamada vida e faço o possível para não abreviar esse tempo.

Mas vamos aos fatos. Havia a previsão do tal ciclone (que no fim nem foi tão ciclonístico assim), de manhã aparentemente tinha um pouco de vento, mas as coisas se intensificariam no final da tarde dizia a previsão do tempo, a defesa civil, os bombeiros e acho que até o papagaio do vizinho. Como a coisa matutinamente seguia dentro da normalidade, despachei a cria mais velha para o colégio, e segui a rotina normal que envolve levar a cria mais moça de bicicleta para escolinha. Eu no movimento de pernas e ela sentada, como uma rainha em uma liteira na cadeirinha.

Deixei a fofura no colégio e pensei: como estaria a orla? Resolvi dar uma olhada. Cheguei lá e o lago parecia um mar bravo, mas depois que eu coloco uma ideia na cabeça é difícil tirá-la. Diria que sou persistente.

Comecei a pedalar no calçadão em direção ao sul e ventava muito, mas não tava difícil ainda que minha bicicleta seja old school, sem marchas. O vento até me ajudava. No entanto, chegou um momento em que foi necessário voltar, afinal não dava para abandonar a família em meio a um ciclone. Confesso que depois de todo esse tempo já tenho grande estima por eles.

Dei a volta e o martírio começou. Pedalando contra o vento, literalmente, sem lenço, nem documento, eu fui. Talvez, para quem passasse de carro eu lembrasse o Jim Carey no Debi & Lóide na cena da motinho, ainda que eu estivesse em uma bicicleta de adulto. O frio tomava conta do meu ser e meu coração parecia que ia sair pela boca. O ranho congelado não aparecia, graças ao uso da máscara que foi providencial para esquentar o nariz. As pedaladas deviam demorar quase trinta segundos cada uma, devido a força do vento. A cadência era tão lenta que, não fossem os cabelos voando loucamente, parecia uma cena em slow motion. Mas lembra que eu disse que quando boto uma ideia na cabeça é difícil eu conseguir tirá-la? Pois então, segui assim por uns 3,5 km. Pensei em desistir? Pensei, várias vezes! Comecei a me incentivar com um diálogo motivacional mental comigo mesma: “Olha quanto tempo de musculação isso deve equivaler! Você não pode desistir, você vive nesse país, você consegue qualquer coisa. Não aguento mais! Menina faz no mínimo seis anos que você não aguenta, não aguentar mais e ainda aguenta, isso é até treinamento de resistência!”

Assim fui! Quando finalmente a maldita reta acabou e eu dobrei, tive um dos maiores alívios da vida. Feliz por ter vencido a “abinha” de um ciclone, conclui primeiro que não enfartei. Segundo, que sou brasileira e teimosa não desisto nunca mesmo em momentos adversos. Sigamos pedalando contra a porra do vento, mas sigamos! Cansa? Muito, mas ainda dá, mesmo que pareça que não dê!

Comentários

  1. Tuas crônicas animam meus encerramentos de semana de uma maneeeeeira!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Fica bem 2023

A pontezinha do Sakae's

Rituais de final de ano