Que empiece el matriarcado

 

Auto imagem, auto estima é algo muito complexo para uma mulher. Encontrar beleza e satisfação em quem somos é um exercício difícil de fazer. Quando somos adolescentes o padrão é não nos acharmos bonitas e inteligentes, por mais encantadoras que sejamos. Sempre tem uma colega, uma amiga, mais bonita, mais desejável, mais esperta, muito melhor que todas as outras (e possivelmente aquela que consideramos a mais tudo de todas, também tem essa sensação em relação a alguma outra menina). Crescemos e lá pelos nossos vinte anos somos cheias de confiança, mas cheias de incertezas onde parece que nunca nos encaixamos em nenhum padrão de perfeição que em algum momento incutiram nas nossas cabeças que devíamos nos encaixar (provavelmente porque não existe padrão, nem perfeição no que não é industrializado).

Quando encostamos nos trinta parece que não dá nem tempo de pensar em nada. A gente lembra que tá virando balzaquiana e que o conceito mudou muito de lá pra cá, mas que ainda assim é um marco. Lembra que no imaginário bizarro construído até então já devíamos estar com a vida toda resolvida. Com filhos, bem sucedida e ganhando rios de dinheiro, porque assim aprendemos com os comerciais de margarina, as novelas e os filmes hollywoodianos.

Então, vem os quarenta. Nessa idade a confiança dos vinte poucos já nos abandonou e disfarçamos certezas que não temos. Já tivemos filhos ou tiramos essa tarefa da lista, ou a colocamos no topo dos topos das prioridades. Já temos uma carreira profissional consolidada ou ainda tentamos buscá-la um pouco desesperançadas. Nesse meio do caminho engordamos vários quilos, ou temos cabelos brancos cuidadosamente disfarçados, ou lutamos com rugas que teimam em querer aparecer, ou não nos tornamos bem sucedida, ou não encontramos o par ideal ( se é que isso existe), ou tudo isso junto e misturado.

E um dia ao acaso você tira uma selfie, afinal todo mundo nos dias de hoje expõe seu vazio através de uma auto imagem cheia de preenchimentos, de filtros de uma realidade dissimulada. Mas quando você olha para aquela imagem você se desgosta por não corresponder à expectativa do comercial de margarina, da novela, dos filmes hollywoodianos. Se você olhar atrás de você naquela selfie que você achou péssima, há grandes chances de, lá no fundo, lá atrás perdido na paisagem ou mesmo na construção social que, sorrateiramente, desenharam em nossas mentes, você encontrar um homem de barriga proeminente bastante avantajada, com a camiseta dobrada sobre ela de forma que ela fique desavergonhadamente exposta, trajando nos pés chinelo tipo rider, se achando a última bolachinha do pacote, acreditando poder ser até presidente.

Nos 50, 60, 70, 80, 90, 100 anos ainda não sei ao certo o que acontece na vida feminina, mas creio que seja mais do mesmo com as peculiaridades de cada fase, talvez com um pouco mais de maturidade para concentrar as energias.

O dia da mulher se aproxima e nesse dia lembre-se que somos todas (das mais seguras, as mais inseguras, das mais empoderadas as mais submissas, das mais pobres as mais ricas, das mais jovens as mais velhas) frutos de uma sociedade que nos ensina auto depreciação física e intelectual, que não nos ensina a nos vermos com bons olhos, que não exalta nossas qualidades, como diria minha avó, que não são poucas e já não é sem tempo que empiece el matriarcado.

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