Pedrada eletrônica
Passou o carnaval, que a gente faz de conta que não viu acontecer e só aconteceu para quem consome e não para quem vive dele. Começou o ano. Coelhinho da páscoa bate à porta e quando a gente menos espera o papai noel já tá pronto para encerrar as atividades. Esse ano promete ser movimentado. Vai ser daqueles de bloquear gente nas redes sociais. Se é que você ainda tem quem bloquear. Ah, mas sempre tem! Sempre tem um parente, algum conhecido da família, aquele que a gente não bloqueou por consideração a alguém (certamente não por consideração a si próprio).
Dia desses estava me perguntando: O que nos leva a bloquear alguém nos app de mensagem instantânea, considerando que eles são ótimas ferramentas para comunicação cotidiana? Por que banimos alguém se não é venda insistente de algo que você não está interessado ou tentativa incessante de te “levar a palavra de deus” (o que não deixa de ser venda de alguma coisa que você não está interessado e de quebra diria que, caso deus existisse, a essa altura do campeonato ele estaria sem palavras)? O que nos leva a essa atitude ”radical” é a completa falta de noção do ser que perturba. No fundo a gente nem quer genuinamente bloquear a criatura, mas ela se esforça tanto que te deixa sem alternativa. Só falta te mandar um whatsapp dizendo “Por favor, me bloqueia em tudo!!!” A pessoa sabe quem você é e o que pensa. As redes sociais são um alto falante para nossas ideias, não dá para dizer “não sabia que fulano pensava assim ou assado”. Para um bom observador até as roupas que usamos, o que lemos, o que ouvimos, como falamos revela como pensamos, às vezes até a forma como dirigimos.
Então, em um dia ensolarado, com temperatura amena, em que o seu humor está o melhor do universo (ou não) a pessoa, aquela que você estava tentando lidar com todo o saco do mundo, com todas as goodvibes aceitáveis, invade o teu espaço digital, a tua paz de espírito, com uma mensagem que na verdade é uma pedrada ideológica eletrônica infundada. Quem faz isso não quer conversar, debater ideias, se quisesse te convidava para uma mesa de bar, um café e não ficava jogando alfineteiros digitais. Uma agressão gratuita camuflada de mensagem instantânea. Aliás, as coisas chegaram a esse nível justamente pela capacidade das pessoas de agredirem gratuitamente, por prepotência, por incapacidade de aceitar o diferente. Daí no momento que você está quietinha no seu canto tentando ser feliz e tranquila, recebe uma mensagem dessas. É inevitável perguntar: Porque mesmo eu tô recebendo isso? Porque eu mantenho contato com essa pessoa? E em vez de mandar a pessoa a merd@ você educadamente a bloqueia. Mantém a sua bolha de convivência mais restrita, sua sanidade mental mais equilibrada e deixa de passar raiva. A vontade verdadeira e sincera naquele momento é banir a pessoa da humanidade, já que humanidade ela não tem mesmo, mas não dá.
O único medo de bloquear todo mundo que perdeu ou nunca teve noção, viver dentro da redoma de algodão doce, é chegar lá por outubro e ser mais uma vez surpreendida pela quantidade de gente que vive dentro de suas bolhas próprias de falta de noção, que deveria estar bloqueada da humanidade, mas tá aí digitando ódio em urnas eletrônicas. Mandar a merd@ não é polido, mas, talvez mantenha os olhos mais abertos.
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