É muito difícil competir com mãe de youtuber

 

É de tarde, minha filha mais velha já chegou do colégio e fez toda a lição de casa. Então, surge a pergunta “Mamãe, posso ver meus minutinhos de youtube?” Eu, um pouco desconfortável, digo sim. Não quero que ela consuma lixo, mas também não quero que seja um ET. É difícil acertar a mão. Faço um esforço sobre humano para compreender que os youtubers são os ídolos dessa geração(argh!) Me apego aos conselhos tranquilizadores das amigas que têm filhos mais velhos e dizem que isso é fase e passa. Os canais infantis de youtube, para nós, devem causar incômodo semelhante ao que nossas mães sentiam, quando a gente, na década de 80, corria para ver o Bozo e sua trupe no SBT. O youtube para as crianças é uma espécie piorada da programação infantil da rede de televisão do Silvio Santos (se é que isso é possível).

Os canais que minha filha assiste são, normalmente, protagonizados por uma menina criança/adolescente com voz estridente, irritante, falando bobagens toleráveis e ensinando a jogar qualquer coisa, propondo alguma brincadeira, ou simplesmente mostrando sua vida nada prosaica. Tudo isso já seria suficientemente maçante, mas tem uma cereja nesse bolo indigesto que são as mães das youtubers.

Elas são como mães de miss, mas garantem um holofote virado para si sob a luz de cuidado e proteção. Penso que elas devem ter tido o sonho de ser paquita, angeliquete ou algo do gênero e projetam isso naquelas crianças. Elas fazem das filhas suas luas de cristal e dizem “faz de mim estrela que já sei brilhar”. Me dá nos nervos ouvir e ver a mãe de qualquer Kukuka, LeLé ou outra alcunha nhenhenhé que elas tenham. As mães se apresentam com seus apelidos “fofos” e fazem tudo que as meninas fazem. Imitam trejeitos, participam de brincadeiras toscas, fazem o papel de melhor amiga como se assim fossem as relações entre mães e seus rebentos. Como resultado elas geram uma expectativa absurda sobre nós, mães “normais”, que não temos o menor interesse em ser sustentadas por um menor de idade que está desenvolvendo sua personalidade e vive, ou está prestes a viver, uma das fases mais controversas da vida. Jamais chegaremos aos pés delas.

Por mais que você explique para uma menina de dez anos que não está entre os seus projetos de vida fazer caras e bocas para vídeos, brincar de ser adolescente, ser BFF de uma criança, sempre há uma esperança e essas mães sempre serão mais legais que a gente. É impossível competir com isso quando por anos se desenvolveu, com muito esforço, pensamento e consciência crítica.

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