Síndrome da Impostora

 

Tem se falado muito sobre síndrome da impostora, um mal que atinge a maioria das mulheres. Vivemos em uma sociedade patriarcal que lucra com esse mal que nos assola. O patriarcalismo se sustenta na sobrecarga que nos é imposta e ao mesmo tempo nos vende que somos incapazes de exercer todos os papéis que atiram sobre nossas costas.

Não nos vemos como boas profissionais, como boas mães, como boas cidadãs. Há constantemente uma sensação de que estamos devendo algo, de que não somos tão capazes. Se nos dedicamos mais à maternidade e menos ao trabalho, somos cobradas por isso. Se nos dedicamos a uma carreira e não temos filhos também somos. Se nos dedicamos à carreira e temos filhos, nos indagam. Consequentemente acabamos nos achando uma “farsa” em muitos aspectos das nossas vidas. Isso é tão intrínseco em nossa sociedade que até quando assumimos um determinado posicionamento ou estilo de vida, nós mesmas levantamos dúvidas o tempo todo se o que estamos fazendo é o que deveríamos fazer.

Dia desses conversando com uma amiga, que está em processo de tentar se reorganizar com a vida profissional para poder se dedicar mais as duas filhas, eu comentei que jornadas de trabalho de quarenta horas semanais para pais e mães eram pesadas demais, ela me disse uma coisa que eu fiquei pensando muito:

  • Mas tem gente que consegue!

De fato tem gente que consegue, mas a que custo? Será que não se questiona nem um pouquinho? Diriam os nascidos entre a década de 70 e 80: “Ah, mas nossas mães conseguiam.” Gente, nossas mães nos deixavam andar em cachorreira de Brasília e isso não é exatamente sensato. Além do mais, hoje, o tempo e o espaço são pautados de uma forma totalmente diferente.

Quarenta horas semanais, são oito horas diárias, se incluirmos aí uma hora de almoço e mais duas de deslocamento, falaremos em onze horas diárias dedicadas ao trabalho. Um dia tem vinte e quatro horas, uma criança de um a cinco anos deve dormir em torno de dez horas por dia, isso significa dizer que você terá umas três horas do seu filho acordado, durante mais de 70% da semana, para criá-lo em uma sociedade que encara o filho como um “problema” só dos seus progenitores (e sejamos justas, na maioria das vezes só da mãe mesmo).

O que se faz em três horas com uma criança pequena? Dá banho, dá janta, conta uma historinha e olhe lá! Isso não é justo nem para a criança, nem para os pais. Dentro de uma lógica patriarcal, onde homens ganham mais, quem acaba saindo do mercado de trabalho, ou “ajustando” sua vida profissional, geralmente, é a mulher.

Se pensarmos de forma complementar, o capitalismo, tal qual se estabelece hoje, tem interesse na manutenção de uma sociedade patriarcal, onde mulheres são constantemente questionadas sobre seus papéis. Se falarmos em uma sociedade onde homens e mulheres são desonerados de produzirem capital tal qual um hamster corre na rodinha, tendo tempo pra si e nos concentrarmos em co gestão doméstica e econômica, essa lógica se inverte e daria até tempo, veja só, pra pensar. Mas a quem interessa isso? Certamente não a uma sociedade que tem em seus representantes políticos homens, brancos, héteros de terno, gravata e bravata, com seus interesses pessoais saciados dentro de suas zonas de conforto. A esses homens interessa muito mais que sigamos nos achando incapazes, questionando nossas habilidades e não nossas sobrecargas. Definitivamente o problema não somos nós, mas sim uma sociedade ultrapassada que precisa ser mudada para ontem.

Dito tudo isso só tenho a acrescentar que se o atual presidente deste país, todos os seus ministros e asseclas se sentiram à altura de seus cargos, quem somos nós, mulheres fodásticas, para nos questionarmos sobre nossas capacidades?! Isso a atual sociedade já faz por nós.

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