Feliz dez anos para nós!

 

Domingo que vem minha filha mais velha completará 10 anos. Sendo bem autocentrada e esse é um dos poucos espaços que ainda tenho a chance de fazer isso, embora muitas vezes minhas pequenas invadam minhas narrativas porque é inevitável, elas são parte de mim, eu completo uma década como mãe.

Lembro como se fosse ontem, eu uma quase mãe de primeira viagem romantizando o que viria pela frente. Querendo um parto normal, quando o obstetra lá pela trigésima sexta semana de gravidez (sim, só mães sabem contar o tempo desse jeito) me disse depois de uma ecografia: nossa essa menina virou e agora tá sentada, não sei se ela desvira para encaixar.

Me deu uma certa melancolia, quase um desânimo. Eu tinha chegado até ali idealizando um parto normal e os meus planos poderiam mudar na reta final. Quem me conhece sabe o quanto eu odeio mudar planos. As duas semanas que se seguiram foram de apreensão e ansiedade. Confesso ter feito musculação, caminhado que nem uma condenada, feito agachamento e qualquer outro exercício que eu tenha achado no Google com esperança de que a menina virasse. Quando completou 38 semanas de gestação já estava cansada. Meus pés pareciam dois pães de quarto, o calor era uma coisa aterradora, eu morava no quarto andar sem elevador, saia só uma vez ao dia para não ter que subir os malditos quatro lances de escada. Talvez, mudar de planos se tornasse uma constante dali pra frente.

Em uma segunda-feira de manhã cheguei no consultório para fazer a avaliação com o médico e depois de me examinar ele olhou para mim e o meu marido e disse: Vocês estão prontos para ter um bebê hoje?

Acho que ninguém nunca está pronto para ter um bebê. Perguntei para o obstetra se teria que ser cesariana e ele me disse: sim, você tem dilatação e ela está sentada.

A essa altura do campeonato o plano B já estava em execução. Confesso que olhava para meus pés e minhas mãos inchadas e tinha a impressão que eu era feita de vulca espuma. Me lembro de pensar: ok, eu queria um parto normal, mas agora tudo que eu quero é que alguém tire essa criança de dentro de mim e que eu passe a identificar ela como um indivíduo e acabe essa sensação de que eu sou moradia de um alien hiperativo.

Assim, há dez anos eu descobri uma outra eu que nem imaginava existir. Depois daquele 30 de janeiro eu nunca fui a mesma e por cada fase que ela passa eu mudo um pouco junto. A maternidade é uma das viagens mais loucas pela qual se pode passar. Não há nada que te prepare para o que virá. Não há cachorro, não há gato, não há planta, não há passarinho ou peixe-beta que te programe para isso.

Nunca mais você pensará só em você, tudo será medido, balanceado e pensado e assim mesmo você não acertará, basicamente porque não há certo ou errado. Existe experiência, convívio e formas de maternar que envolvem duas pessoas diferentes e, sim, criança é uma pessoa e é diferente da gente em muitos pontos.

Aconselho às que têm vontade de entrar nessa viagem que se atirem porque não há nada mais trabalhoso, questionador, doido, prazeroso e eterno, assim tudo junto e misturado. Se não tem certeza se estará preparada para isso, fique tranquila (mas não demais) ninguém nunca está, ninguém nunca esteve. Por último essa é uma viagem sem volta que nem todo mundo é obrigado a fazer (embora eu super indique) e não fazê-la não torna ninguém menos mulher, menos gente ou menos qualquer coisa que a sociedade machista queira nos fazer sentir.

À minha filha só tenho a agradecer por andar de mãos dadas comigo nessa construção do meu atual eu. Viva nós, meu Flamingo!

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