Eye of the Tiger

 

Tirar férias em família é ótimo! Mesmo desviando do coronavírus e dos ultraconservadores, ainda assim é muito bom. A vantagem desse país é o tamanho. Ele é tão grande que ainda é possível encontrar pequenos paraísos vazios de gente disseminando vírus e de ideologia assumidamente tacanha.

Viajar é mudar o cenário, tudo fica diferente, até a briga das crianças. Não que não haja, há, mas sob novos ventos. Tudo é novidade, parece que tem mais distração e menos tempo para implicar com a irmã. Mãe é um cargo do qual não se tira férias, sempre há coisas para serem feitas. Uma comida aqui, umas compras lá, um não enche o saco da tua irmã acolá. Mãe é quase um oráculo, aquele ser que tudo sabe, que está sempre pronto para responder a todas as perguntas e solucionar todos os problemas da família, não só das crianças. Cadê meu chinelo? Viu meu cartão? Ainda tem pão? Amanhã vai chover? Que passeio a gente vai fazer? Que horas são? Oráculo obviamente não tem folga, no máximo muda de ares e segue exercendo sua função suprema.

Às vezes a gente oraculeia sem nem mais se dar conta, só vai respondendo e tocando a vida, mas se tem uma coisa que desestabiliza a vida de mãe/oráculo é a volta das férias. Eu dois dias antes já começo a sofrer um pouquinho. Tem que chegar em casa, arrumar tudo o que foi levado para o outro lugar e o que me causa mais pânico, quase dor de barriga, é a mala de roupa suja.

Quando você é uma pessoa sozinha, se não quiser lavar a roupa por um mês e reeditar calcinha e meia, o problema é única e exclusivamente seu. Quando você tem uma família de cinco pessoas, voltará com a maior mala que foi viajar recheada de muita roupa suja. Ao abrir aquela mala, parece que ela se transforma em uma supermontanha de roupa, na qual, caso quisesse, você poderia praticar um novo esporte: "clothesboard". Embora, seja roupa de um monte de gente é bem possível que o problema de lavá-las, estendê-las e, a pior parte, dobrá-las e guardá-las seja só seu. Você até pode contar com a ajuda de um outro adulto funcional, mas só você com seu “dom” de oráculo vai saber qual a calcinha cabe numa bunda de quatro anos e qual serve em uma de 10 anos, provavelmente nem as proprietárias das calcinhas sabem de quem é até colocá-las trocadas.

Enquanto você sufoca nas roupas sujas ainda é preciso responder: Minha blusa tal já lavou? Eu queria tanto meu vestidinho preferido, que usei todos os dias das férias, por que eu não acho? Meu ursinho também foi pra lavar? Mamãe, a fofazinha vai ficar seca até a hora de nanar de novo?

Essa semana cheguei de viagem, abri aquela mala enorme de roupa suja, juntei com as que já estavam no cesto e as encarei como inimigos mortais! Determinada, comecei a tacar roupas loucamente pra dentro daquela máquina, sem nem separar por cor. Se tivesse uma trilha sonora seria Eye of the tiger que toca no Rocky Balboa. Era uma maquinada atrás da outra, torcendo para que ao final da lavagem não saísse tudo rosa e não arrebentasse a correia da querida. Pã…..pãpãpã...pãpãpã….pãpãpâããããã.

Enfim, depois de três dias, inúmeras maquinadas, algumas colaborações de outros adultos funcionais, eu e máquina sobrevivemos. Vencemos as roupas! Importante: não tem nenhuma peça que tenha ficado rosa e eu já voltei a minha atividade normal de oráculo familiar não soterrado em roupas.

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