Papai Noel: Um consumidor

 

Semana passada fui a uma dessas lojas de R$1,99, em que nada custa R$1,99 há muitos anos, com minhas duas filhas. Estava eu me sentindo quase heróica por entrar com duas crianças em um comércio desses às vésperas do Natal. Cada uma das meninas pegou um cestinho para não brigarem, porque o espírito natalino entre duas irmãs, envolve brigar por tudo o tempo todo.

Entrei apressada, desviando das pessoas e arrastando as duas pequenas pessoas que estavam sob minha responsabilidade. Paramos na frente de uma gôndola para eu escolher uns enfeites natalinos. Minha filha mais moça se ajoelhou no chão ao meu lado enquanto eu tentava rapidamente pegar o que queríamos. Quando fui colocar no cestinho dela um enfeite olhei e ela estava com uma carinha de “Não acredito!”. A boquinha entreaberta, olhinhos brilhantes e fixos focando em algo atrás de mim, a mãozinha iniciava um lento abano e ela dizia em voz baixinha:

- Oi!

Quando me virei para trás para ver o que estava acontecendo, me deparei com um Papai Noel e dois Duendes fazendo compras. O Papai Noel, tal qual nós, desfilava com seu cestinho vermelho cheio de bugigangas. Ele olhou para ela e respondeu simpático à saudação chocada dela:

- Oi! Quanto tempo! Já faz quase um ano que não nos vemos, né?

Os duendes riram. Ele seguiu as compras sob o olhar pasmo daquela pequena fã de quatro anos, que se guardava alguma dúvida sobre a existência dele, deve ter sanado naquele momento. Não era um Papai Noel em um shopping atrás de um acrílico, parado para receber pedidos e tirar fotos. Era um Papai Noel em plena atividade, provavelmente passando um calor infernal dentro daquela roupa toda fechada, comprando algumas coisas de última hora para distribuir em alguma festinha natalina.

O bom velhinho foi para um lado e nós seguimos com nossas compras. Chegamos no caixa para pagar e mais uma vez encontramos o Papai Noel e seus Duendes no caixa ao nosso lado. A moça que o atendia perguntou

- Dinheiro ou cartão?

Papai Noel respondeu:

- Cartão.

Minha filha mais velha, que há muito tempo não acredita na existência dele, disse:

- Olha mãe que moderno! O Papai Noel paga com cartão.

Ele mais uma vez nos fitou e disse:

- E é com aproximação hohohoho!

O Papai Noel já estava de saída e a minha filha mais moça cada vez mais chocada, deu mais um abaninho em câmera lenta para ele e disse um tchau quase inaudível, tal era seu embevecimento. Ele olhou para ela, chegou perto e falou baixinho:

- Não comenta com as outras crianças, deu um problema lá na fábrica e tive que vir aqui comprar algumas coisinhas!

Papai Noel saiu com suas sacolas, nós saímos com as nossas a tempo de ver ele e seus Duendes entrarem em um carro igual ao nosso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fica bem 2023

A pontezinha do Sakae's

Rituais de final de ano