Acordão

 

Anteontem de manhã me aproximei da pia da cozinha para largar um prato com alguns farelos, a tampa da lixeirinha da pia se mexeu nervosamente e dali emergiu um rato. Tive um chilique! Saí correndo e gritando feito uma louca para um lado e o rato saiu correndo para o outro (acho que ele não gritava). Pessoas mais ou menos normais têm medo ou nojo de rato, eu tenho verdadeira ojeriza. Até escrever a palavra aqui me causa arrepios. Confesso ter pulado partes do final de 1984 de George Orwell tal o asco que senti. Essa semana gritei tão alto que fui literalmente ouvida na Europa. Meu marido fazia uma reunião on line no escritório e enquanto eu tentava respirar na porta do nosso quarto (que fica ao lado do escritório) ouvi ele dizendo: "Sorry guys! I think there is a rat in my house." Esperei por 3 segundos que essa fala fosse a deixa para ele sair da reunião e vir ver o que acontecia. Não era. Durante esses três segundos pensei que o príncipe viria nos salvar, daí lembrei que príncipes não existem e meninas se viram sós. Além é claro que sem o emprego assalariado dele não pagamos a desratização feita por um profissional.

Coração seguia disparado quando comecei a amaldiçoar as gatas. Tenho duas gatas e onde elas estavam? Dormindo, enquanto o maldito rato andava serelepe pela casa e habitava a lata de lixo. Pedi pra minha filha mais velha pegar a Petit Gateau (uma de nossas gatas) que dormia tranquila e negligentemente em cima do armário. Jogamos Petit na cozinha, ela meio dormindo não entendeu nada, parecia a esquerda brasileira depois da eleição de 2018. Fazia “fuuuuuuu” pra gente sem saber como agir.

Gato é animal progressista. Não é dos mais tradicionais pets, não é unanimidade, os conservadores os difamam, mas quem descobre seus encantos não consegue mais viver sem eles. Não vai com qualquer um, mas é fiel aos seus (e bastante aos seus princípios), defende a casa de invasores (quase sempre), não aceita suborno, não puxa o saco de ninguém, tem consciência de classe mesmo quando tratados com muitos mimos e dão moral nos cachorros ainda que fisicamente sejam mais fracos (haja vista Garfield e Oddie). Sempre fui grande defensora dos gatos (e ainda sou), mas quando eles (aqui em casa, elas) chupam uma bala dessas e deixam os ratos emergirem de lixeiras na nossa cara, às vezes se aliar ao centrão pode ser uma solução (por mais que eu odeie dizer isso), até as coisas se acalmarem e os ratos voltarem para o esgoto.

Aqui em casa o centrão é nossa labradora que mora no pátio. Ela é aquela cachorra que abana o rabo para qualquer um, aceita toda e qualquer forma de suborno (de comida à carinho), mas desde que as gatas deram aquele mole ela foi promovida a minha segurança pessoal. Tenho consciência que ela foi permissiva e deixou um rato invadir a casa e depois na hora do gritedo surgiu como salvadora do lar. Talvez tenha sido subornada. Vai ver ele deixou a ração dela intocada, quem sabe? Mas agora preciso dela bem pertinho de mim até as coisas se acalmarem, ela é a certeza de que um latido e qualquer bicho sai de perto. Fiz um acordão e ela me acompanha até no banheiro. Em troca foi promovida a cachorro de dentro de casa. Começo a ter dúvidas se por acaso ela não plantou o rato na lixeira, pois tem obtido muitas vantagens com o caos. Não tenho certeza, mas acho que a vi escrevendo uma nota de repúdio ao rato.

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