Os brindes plec plec

 

Aqui em casa somos todos muito desastrados. Eu, em especial, nos represento com maestria. Sempre fui meio atrapalhada, um tanto desajeitada. Não sei bem o espaço que ocupo, às vezes me hiper dimensiono, outras vezes me hipo dimensiono. Gosto de pensar que sou fluida demais aprisionada dentro de um corpo, isso justificaria minha falta de coordenação motora que me acompanha desde que me mexi pela primeira vez. Sou aquela pessoa que quebra até o que é inquebrável, derrubo o que está muito bem grudado, tropeço no nada ou em mim mesma. Já pensei em me oferecer para ser testadora de resistência de eletrônicos. Invejo quem tem celular há mais de seis meses sem nenhum trincadinho na tela. Sou capaz de vir sorrindo para os convidados com uma travessa de vidro contendo o prato especial do almoço, tropeçar e acabar com o almoço (sim, isso já aconteceu mais de uma vez).

Por outro lado, meu marido (que também é um pouco desastrado, mas bem menos que eu) tem, literalmente, uma crise de ansiedade quando algo quebra e sobram cacos. Ele imediatamente imagina uma artéria das crianças sendo atingida por um caco que as atacou (só isso justificaria o pânico que ele instala na casa quando ouve algo sendo quebrado). Rapidamente ele fala alto para que ninguém se movimente e elabora um plano de evacuação. Tira todos do cômodo onde tem cacos (às vezes até da casa dependendo da extensão da área atingida), arreda móveis, varre, aspira, passa pano em todos os cantinhos. Confesso que já pensei em quebrar coisas pela casa só pela faxina que ele faz, mas não fiz porque o stress gerado é muito grande, se bem que aquela vez que quebrou um vidro de perfume no banheiro foi uma maravilha! A situação de uma mísera xícara de cafézinho quebrada aqui é tão grave que esses dias ouvi minha filha mais velha cochichando para a mais moça “Papai morre de medo de caco de vidro!”.

Somos um casal que se complementa, que tem equilíbrio: eu quebro, ele limpa os cacos com a maior destreza já vista. Embora a limpeza que ele faça seja muito bem vinda, há alguns meses optamos por copos e taças de acrílico. Gera menos ansiedade para toda a família (sim, é impressionante como isso contagia) e nos últimos anos a vida anda tão problemática externamente que não precisamos de elementos que gerem mais agonia, além dos que já se apresentam e fogem do nosso controle. Outro dia fomos brindar e nos demos conta que os brindes não fazem mais tim tim, ou plim plim. Quando os copos se tocam agora faz tec tec ou plec plec. É engraçado, talvez estranho ou incomum, mas o lado bom é que seguimos achando, procurando, catando, juntando motivos para brindar.

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