Hipocanteirinho

 

Essa semana uma amiga me mandou uma reportagem interessante sobre o cérebro pandêmico. Em resumo, a reportagem falava que o stress por períodos curtos pode ser benéfico, como aquela pressão para cumprir um determinado prazo que te joga pra frente e te obriga a responder com rapidez. Contudo, quando somos submetidos a longos períodos de stress, que não tem nem sombra de arrefecer ele deixa de ser benéfico e começa a causar alguns danos ao cérebro (não precisa surtar, são danos reversíveis). Ou seja, não se surpreenda se você estiver com mais dificuldade de concentração, andar mais esquecido ou algo parecido, ao que tudo indica isso também é parte do odioso “novo normal”.

Se eu, enquanto leiga, entendi bem, o stress prolongado faz com que liberemos um hormônio chamado cortisol que pode afetar volumes de áreas específicas do cérebro. Uma das áreas afetadas, por exemplo, é o hipocampo que é responsável pela memória. Então, se você anda se identificando com a Dory de “Procurando Nemo”; ou anda abrindo o pacote de bolacha jogando elas no lixo e ficando com a embalagem na mão; ou está com dificuldade de decidir se a melhor estratégia é passar álcool na criança inteira ou mandar pro banho quando volta da pracinha, tranquilize-se, mas não demais, tá tudo normal considerando a anormalidade da situação.

A reportagem também dizia não ter muito o que fazer, além do que já fazemos para qualquer área de nossa saúde (ter uma alimentação saudável, uma rotina organizada, fazer exercícios) e esperar o motivo do stress ir embora, ainda que não se saiba quando isso acontecerá.

Depois de ler a matéria toda concluímos (eu e a amiga que me enviou a reportagem) que o hipocampo do brasileiro que não relincha, ou não flutua em um universo paralelo tá se transformando em um hipocanteirinho cheio de entulho. Afinal, estamos desde meados de 2014 submetidos a um stress que vem crescendo e não dá sinais de ir embora. Parece que quando estamos no fundo do poço descobrimos que ele nem tem fundo. Claro, que a pandemia nos levou a um grau máximo de desgaste. O meu hipocanteirinho só não ficou interditado, graças a duas crianças que dependem de mim, a expansão das plataformas de streaming, a leitura (ainda que às vezes eu reme por meses no mesmo livro) e outras cositas más que me divertem no poço sem fundo, mas ele, sem dúvida, está com as estruturas abaladas.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fica bem 2023

A pontezinha do Sakae's

Rituais de final de ano