Sobre corrida, tombos, máscara e bandeiras

 

Já comentei em algum momento que eu corro. Não, eu não gosto,mas eu corro. Não é nada contra a corrida, é contra o esporte mesmo. No meu mundo ideal em vez de fazer uma atividade física eu ficaria sentada olhando tv e comendo um donuts. No entanto, a genética não foi legal comigo e se eu fizesse isso estaria participando daquele programa "quilos mortais". Graças a esse DNA que colabora com meu formato arredondado e me faz ter medo de doenças cardiovasculares, não me permito não fazer exercícios e por isso sou a dita “gordinha saudável”. O bom é que como eu não gosto de fazer exercício, eu viajo nos meus próprios pensamentos como forma de fuga daquela atividade chata. Enquanto me exercito faço lista de compras mentalmente, invento atividades para fazer com as minhas filhas durante a pandemia, penso num bolo que talvez um dia eu faça, esboço textos, crio diálogos, tenho ideias mirabolantes.

No início da pandemia deixei por um curto período de fazer exercícios o que me rendeu uma camada adiposa de dar inveja a uma foca do Ártico. Quando vi que a pandemia era algo que se estenderia por mais tempo do que eu imaginava voltei a correr ao ar livre, pois me mudar para o Ártico não estava nos planos e a camada adiposa não serviria para me esquentar, possivelmente só serviria para entupir as artérias.

Primeiro comecei correndo de máscara em lugares que não tinham quase pessoas, só carros e por vezes pensei que não pegaria covid, em compensação eu poderia ter uma intoxicação por gás carbônico saído do escapamento dos veículos. Durante a época que eu fazia esse percurso por duas vezes tropecei nas péssimas calçadas da cidade e levei tombos de parar o trânsito. Daqueles que a gente vai tastavilhando e pensando "to caindo, to caíndo, to caíndo, putaquepariu caí! Ai que vergonha! Levanta logo e finge que nada aconteceu, faz de conta que esse sangue escorrendo dos joelhos é parte da estampa da calça. Aja naturalmente!".

Devido às quedas cheguei a conclusão que precisaria achar um trajeto mais adaptado para corrida. Escolhi o novo percurso, mas precisava achar um horário que não fosse cheio de gente porque se não eu ficaria imaginando os coronavírus saindo das pessoas e se grudando em mim, por mais que eu use máscara e esteja ao ar livre minha mente é um terreno fértil. Descobri que quando o sol está a pino é um bom momento. As chances de eu contrair covid nesse horário são pequenas, já as de câncer de pele não tenho certeza, mas me encho de protetor, boné, máscara e vamos lá ter 45 minutos de invasão de vitamina D.

O incrível é que não sou a única adepta do horário. Esses dias em meus devaneios atléticos percebi algo em relação a máscara. Muitas pessoas fazem exercício com ela, outras tantas a usam no queixo ou na boca com o nariz de fora e quando veem alguém vindo no sentido contrário rapidamente a colocam corretamente, tem um outro tanto de gente que carrega na mão (sempre penso que as luvas devem colocar na cara) e outras pessoas simplesmente não usam. Observando essa gente, me dei conta que no início da pandemia a máscara era só um EPI, mas agora se tornou algo muito maior. A máscara hoje assume ares de bandeira, uma bandeira que sinaliza: não te conheço, mas respeito sua existência; respeito o quase meio milhão de mortos; estamos no mesmo barco e vamos sair dessa! Enquanto o não uso diz exatamente o contrário, o famoso "foda-se" a vida, só quem importa no universo sou eu o alecrim dourado e esse corpinho lindo. Dessa forma sei quem me passa um mínimo de segurança e também de quem eu quero manter bem mais que dois metros de distância.

Quando passo pelas pessoas de máscara (mesmo as que colocam só quando me enxergam ao longe) me sinto acolhida e pode ser só efeito da viajem endorfínica, mas sinto olhinhos sorrindo (sim, olhos sorriem, ficam fechadinhos. Ok, pode ser o sol!) e dizendo tamo junto!

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