Eco

 

Eco é a repetição de um som que se dá pela reflexão de uma onda sonora em uma superfície ou objeto. Quando somos crianças e descobrimos o eco é um fascínio. Gritamos em todos os lugares para ver se acontece ou não. Minha filha mais moça está nessa fase, embora não tenha tido muita oportunidade de testar o efeito sonoro, por motivos óbvios. No máximo experimenta a sensação no banheiro que dá eco. A brincadeira é divertida, mas lá pelas tantas cansa. Ainda mais se o som emitido for sempre o mesmo, a mesma palavra ou a mesma frase.

Encarar a pandemia no Brasil tem sido assim, cansativo e repetitivo. Tudo poderia estar melhor com medidas simples (usar máscaras, lavar as mãos e manter o distanciamento social), mas por mais que essas medidas sejam exaustivamente repetidas pelos profissionais de saúde, há mais de um ano, elas ecoam entre as pessoas que já sabem e já fazem o que é necessário. Eles falam, falam, mas parece que suas vozes refletem em redomas mentais recheadas por déficit cognitivo, obscurantismo e falta de informação confiável (para não dizer informação mentirosa). Dentro das redomas há uma pseudo preocupação com a economia e um total descaso com a vida. Como se a economia não fosse uma criação humana. É muito triste e desgastante viver assim. Infelizmente estamos todos juntos e misturados: os que compreenderam a mensagem e os que não querem entender, e assim as coisas não melhoram. Se dependesse exclusivamente de quem segue as medidas sanitárias estaríamos vivendo um cenário bem mais favorável como muitos países nos mostram ser possível.

Para que a situação brasileira melhorasse o som precisaria transpor esses escudos mentais construídos com fortes alicerces de achismo, prepotência e descaso, mas isso depende do receptor estar disposto a se despir de sua redoma mental. Parece que isso não acontece. O emissor é inclusive mal visto, mal falado, agredido por aqueles que deveriam lhes dar ouvidos. Manter o egoísmo e o umbigocentrismo interessa mais do que o entendimento da coletividade. Em suas redomas as pessoas se apegam com unhas e dentes a ideias vagas que repetem como gravadores, deixam de lado fatos comprovados e naturalizam a morte, porque não lhe parece assim tão próxima. O vizinho não lhe é próximo. Não compreende-se para além de si mesmo.

Enquanto isso vivemos uma guerra sem bombas. A morte ecoa junto com o discurso. Os corpos se multiplicam. Os hospitais não tem mais o que fazer, em breve nem as funerárias darão conta. Será que pedirão que os cadáveres voltem ao trabalho para salvar a economia? Assim o Brasil, país do futuro, se torna o país problema mundial.

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