Saudade de carnaval

 

Eu não sou a pessoa mais carnavalesca do mundo. Já fui, mas foi uma fase que passou. Atribuo isso a um trabalho que fiz anos atrás em que fui responsável por montar uma escola de samba mirim, o que me ocasionou uma overdose de folia. Desde então meus carnavais são menos no meio da multidão. Ainda frequento bailinhos infantis, porque minhas filhas adoram e é uma maneira de me divertir com as amigas, mães das amigas das minhas filhas, mas não tem mais aquela coisa de ficar bebassa, até porque as chances de perder as crias no bailinho seriam grandes. Dá para tomar uns bons drinques de leve, dançar com as crianças, jogar uns confetes e ver elas todas catando os papeizinhos picados no chão.

Esse ano por motivos sanitários não tivemos nada disso. Senti uma falta danada do bailinho do ano passado. Senti uma falta danada da companhia das amigas de bailinho infantil que me ajudavam a não perder minha filha mais moça no meio da multidão, já que ela é um perigo: engata uma primeira e sai que nem maluca pelo salão.

A ausência do carnaval me fez sentir saudade de muitas coisas, mas talvez o que tenha me deixado mais chateada é que nós, brasileiros, sempre fomos reconhecidos pela alegria, pela hospitalidade, pela felicidade e esse ano nem isso pudemos mostrar para o mundo. Nos últimos tempos nossos representantes, que são o espelho da nação, nos mostram como grosseiros, odiosos, indiferentes, anti-ciência, bárbaros e isso entristece demais.

É claro que o carnaval não podia acontecer. As festas clandestinas que aconteceram foram apenas mais uma representação de que nos perdemos e que não entendemos o sentido de coletividade. Os carnavais clandestinos não representam em nada a nossa brasilidade. Entre tantos medos, um dos que tenho é que se aproveitem do momento e levem embora a maior representação genuína da alegria brasileira. Logo agora que o país carece de alegria, delicadeza, educação (sem moralismos) e empatia, a pandemia e o desgoverno (que entre tantas coisas ruins que já fez, elevou a crise de saúde ao exponencial máximo) nos tiram a maior festa nacional. Acho que deveria ser criado um carimbo para se usar no passaporte, avisando: “Desculpa! Não votei nesse desgoverno.” para deixar bem claro as responsabilidades de cada um na catástrofe que nos transformamos.

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