Meus youtubers

 

A minha filha que está prestes a completar nove anos sonha em ser youtuber. Não só ela, mas a geração dela toda quer ter o seu canal. Os amiguinhos todos ou tem, ou vão ter, ou acham que terão. Confesso que posterguei ao máximo a relação dela com o youtube e quando ela teve permissão para usar foi sempre por pouco tempo. Ela adora ver uns canais chatos para caramba que eu tenho certeza que não contribuem em nada para a formação do pensamento crítico, mas vamos lá, deixa a criança sonhar. Qualquer vídeo que venhamos a gravar, até se for uma mensagem rápida para avó ver que ela está bem, ela age como youtuber, se deixar pede que curtam o canal e deem like (no canal que não existe).

Quando eu era criança era mais simples. O que todos queriam era entrar na nave da Xuxa que a gente nem sabia para onde ia ou ser paquita. Como eu era gordinha e não era loira, obviamente não seria paquita e a nave, então, super intocável, afinal o Xou da Xuxa era gravado no Rio de Janeiro e uma passagem de avião custava uma fortuna. Imagina quanto custaria para entrar naquela nave que desaparecia com as crianças? E vai que entrasse na nave e nunca mais pudesse ver minha mãe e meu pai? Melhor, não arriscar!

Mas agora a possibilidade de ser youtuber é muito mais tranquilo. Na teoria, é claro. Qualquer um com tempo ou mãe e pai que tenham saco pode ter o seu canal. É só ter câmera, computador para editar (e luz, e saber editar, e saber vender e gastar muito tempo fazendo isso). Não tem que ir pro Rio de Janeiro. A pessoa pode estar em qualquer lugar e ela nem desaparece numa nave, o que dá bem mais segurança. Só é difícil explicar para a pessoa que todas, todas e todas as crianças têm o mesmo sonho e ter um canal de sucesso, como aqueles chatos pra caramba que ela adora, não é bem assim. Mesmo tendo trabalhado com produção bastante tempo, me vejo com dificuldades de explicar para ela que não é assim tão simples, que um vídeo de 15, 20 minutos demanda muito mais tempo para fazer e que podem existir coisas mais interessantes para uma criança passar o tempo do que isso.

No meio do ano passado, de tanto ela insistir que queria ter um canal, meu marido disse que em 2021 eles fariam um. Sabe quando você vê alguém falando e parece que tudo o que está sendo dito está em câmera lenta, você tenta impedir a pessoa de continuar, mas não dá tempo? Pois essa foi a minha sensação quando vi ele proferindo aquela frase. Foi um honesto: “Na volta a gente comprar”. Ele, com certeza, naquele momento estava passando por uma fase pessimista do distanciamento social, pensando que o mundo ia acabar e não teria 2021. Só isso explicaria essa promessa absurda. No mesmo minuto ele virou o pai da década, o melhor pai que inventaram e mais um monte de elogios, mas ressaltou que só ia falar sobre o assunto no outro ano.

O mundo não acabou, a humanidade está periclitante e nós continuamos aqui. Dia 01 de janeiro de 2021 a meia noite e um a nossa filha dava pulos de alegria, porque tinha chegado o ano que ela seria youtuber. Um lado perverso meu, ficou muito feliz que não fui eu que fiz aquela promessa ilusória. Um outro lado meu ficou com pena do meu marido que vai ter que lidar com mais essa situação em 2021 e um terceiro lado meu (tenho muitos) está louca para ver meu marido no youtube, porque pelo que pude entender até agora, ela quer um canal de jogos junto com o pai, ou seja, ele não sabia, mas a ideia é que em 2021 ele vire youtuber também!

Comentários

  1. hahahahahahahah dale Rodrigo!!!!!!!!!!

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    1. erro estratégico de minha parte... e agora fazer o que? Tenho até o final do ano para bolar alguma solução e aprender a fazer algo ...

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  2. Hahahahahaha genial! Vão acabar famosos!

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    1. Em tempo: tu podia ter dito um ano longe o suficiente pra ela não querer mais ser YouTuber (sim, o Dedé tb quis um dia e thanks god não quer mais), nénão?

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    2. Em tempo 2: o Em tempo 1 foi pro Rodrigo!

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