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Das coisas mais divertidas que se tem para fazer em lugares com outras pessoas é observá-las. Adoro uma aglomeração de gente desconhecida para observar. Melhor ainda se elas estão em grupo. Sou uma observadora confessa. E eu não só as observo, como fico pensando quem são, como são as vidas delas.

Às vezes estou em algum lugar e uma cena inusitada me faz prestar atenção em alguém, é um prato cheio para minha imaginação. Crio personagens. Aquelas pessoas nem sabem, mas elas passam naquele exato a momento a ter um perfil psicológico, uma vida profissional, uma relação familiar e um ciclo de amigos que provavelmente em nada tem a ver com a realidade. Mas a pessoa está ali, eu estou ali, lamento, muito melhor que conversar e conhecer a pessoa é criá-la em minha mente. Qualquer um que eu conheça ou não, está apto a ser um personagem. É um exercício de criatividade e as pessoas que desconheço são melhores para isso porque a realidade não desaponta o que criei.

As histórias perduram na minha mente por alguns minutos, se forem muito boas as mantenho por algumas horas. Se não as escrevi, elas são deletadas para abrir mais espaço no meu hardware.

2020 não foi um bom ano para analisar pessoas em lugares públicos. As redes sociais não são tão boas para observar, criar histórias e personagens, porque as pessoas já criam suas próprias narrativas de ficção. Todas lindas e felizes, algumas, às vezes, revoltadas. Quem sou eu para me meter em suas histórias?

Do meio do ano para o final, imagino que o ano em que mais usamos redes sociais, fiquei um pouco aliviada com o desafio do filtro. Honestamente andava ficando preocupada achando que todo mundo tinha ficado mais bonito e só eu tinha ficado mais velha durante a pandemia. Tem gente que parece carregar sempre um fotógrafo particular a tira colo para onde vai de tanta foto linda que posta. Sem contar o índice de felicidade cênica das redes que em determinados momentos nos levam a depressão, talvez seja porque captamos os sentimentos através dos cenários.
2020 me deixou com saudade de observar pessoas in loco e criar suas histórias, mas boto fé em 2021 (meu otimismo me obriga a isso). Verdade seja dita, egoisticamente falando, que em termos de produção, o ano de 2020 foi ótimo para mim. Devo ser daquelas pessoas que produzo melhor sob pressão, algo como “Vamos mulher, tá acabando o mundo! Escreva ou a vida acaba e você não fez uma das coisas que mais gosta”.

Individualmente, gostaria de, em 2021, não perder o gás para escrever, mas criar mais personagem hipotéticos e o movimento natural nas ruas viria a calhar. Coletivamente gostaria de ver a queda do patriarcado (o que resolveria uma série de questões interligadas), embora seja um tanto distante e vá demorar mais que um ano, em algum momento há de começar a ruir (se é que já não começou). Para isso também precisamos do movimento das ruas, de vozes uníssonas. Pelas redes sociais é muito fácil nos ignorarem, nos botarem filtros, mas marchas continentais gritando para serem ouvidas não podem ser ignoradas. Que tenhamos como exemplo para 2021, as argentinas no último dia 29/12/2020. As personagens que podem sair disso, fictícias ou reais, são muitas e suas histórias tem grande potencial.

Seja bem-vindo 2021, espero que as pessoas sejam legais contigo para que no fim não saiam falando mal de ti. Afinal, você só cumpre um ciclo, quem o torna bom ou ruim são as pessoas em sua coletividade.

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