Jocasta vai às compras

 

A vacina está aí, batendo na porta, mas a pandemia segue e nós por aqui ainda somos um dos dez núcleos familiares brasileiros que estão firmes no distanciamento social. Em março completará um ano que não coloco os pés em um supermercado. Já comentei que costumo fazer nossas compras em pequenos supermercados que tem perto de casa, mas há coisas que eles não tem. Nesses casos apelo para um aplicativo de compras em redes maiores. É como um uber que faz as suas compras.

Tenho plena consciência de como esses serviços tendem a explorar quem executa o trabalho, mas com a crise de empregos que o país vive isso acaba sendo uma alternativa para muitas pessoas continuarem vivendo. Obviamente, para que fosse justo teria que haver algum tipo de regulamentação para esses trabalhadores e isso no Brasil atual é utopia.

Sendo totalmente individualista e olhando para meu próprio umbigo, o bom desses aplicativos é que você escolhe os produtos no próprio aplicativo com a foto do produto. Então, é muito difícil que o “Shopper”, como eles chamam quem faz as compras, se confunda e os produtos vem sempre certos. Às vezes, se alguma coisa está em falta, eles te mandam alternativas também com fotos, o que facilita o entendimento. Outro ponto forte é que você escolhe o horário de entrega.

Eu já usei algumas vezes e fiquei bem satisfeita com o serviços, mas obviamente algumas situações engraçadas já aconteceram. Um dia o Shopper que fez minhas compras se chamava Rodrigo, o mesmo nome do meu marido. Quando ele chegou para entregar o pedido eu tinha saído do banho e gritei para chamar meu marido para que ele recebesse a entrega:

           -Rodrigoooooo!

E o pobre shopper respondia na frente da minha casa:

           - Pois não?

Eu fiz mais uma tentativa

           - Roooooo!!!!!!

E o shopper:

          - Simmmmm????

Achei por bem desistir e não chamar algo como “Amoooorrr”, porque vai que o moço se assustasse e fosse embora. Demorei um pouco, mas recebi o pedido e o Rodrigo, que fez as compras, deve contar por aí que atendeu uma louca que chamava o nome dele de dentro de casa quando ele chegou.

Essa semana tive uma nova experiência interessante com o nome da Shopper. Agendei meu pedido e algumas horas depois recebi uma notificação no celular:

“Jocasta começou a trabalhar no seu pedido”

Li e pensei: Será que Jocasta se libertou das profecias que a perseguiam e resolveu tomar as rédeas de sua vida e tornar-se dona do seu destino?

Um tempo depois recebi mais uma notificação:

“Jocasta está a caminho com suas compras”

A essa altura eu já estava ansiosa para conhecer a Jocasta. Quando ela chegou, eu e minha filha menor fomos recebê-la. A moça era muito simpática, elogiou o vestido da minha filha e comentou conosco:

           - Eu tenho um pequeninho dessa idade, mas já voltou para escolinha para eu poder trabalhar.

Ela nos entregou as compras, nos despedimos e eu fiquei pensando: A que ponto chegamos, Jocasta toma as rédeas de sua vida e se vê obrigada a deixar Édipo na escolinha em meio a uma pandemia para poder sustentar o menino.

Minutos depois recebo mais uma notificação:

“Avalie Jocasta”

Gente! Quem sou eu para julgar Jocasta? Aliás, quem sou eu para julgar qualquer mãe no Brasil de 2021. Se ser mãe já era uma das tarefas mais difíceis da vida e também mais prazerosas, o ano que passou e o que está por vir está nos levando ao limite, testando nossos nervos e descobrimos que eles são de aço. Estamos todas fazendo o melhor, e às vezes o melhor é o que dá. Jocasta merece nota máxima, assim como todas as mães que eu conheço.

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