Terceiro ano do ensino fundamental com louvor

2020 foi um ano difícil! Eu nunca pensei na minha vida que depois de acabar o colégio; estudar e me formar em uma universidade pública, federal, gratuita e de qualidade; fazer mestrado, eu teria que fazer o terceiro ano do ensino fundamental de novo (ainda mais com um lapso de tempo tão grande). Eu já tinha feito tão direitinho quando tinha meus 8 para 9 anos. Ok, sejamos honestos, talvez não tenha sido assim tão direitinho.

Quando chegamos aos 40 anos, teoricamente,  já fizemos caligrafia até dizer “sua letra é uma bosta desista”, já multiplicamos e dividimos a exaustão. Também já sabemos as capitais. Lembro até hoje da minha mãe me ajudando com as capitais do Brasil. Ela ensinava por associação, não necessariamente lógica. Ela peguntava “Piauí?” e eu com cara de quem não tinha a menor ideia do que responder recebia a dica essencial para a resposta “O Chacrinha” e a resposta vinha naturalmente “Teresina” (fazia todo o sentido para quem nasceu em 1980). Mais uma das difíceis vinha em seguida “Tocantins?” e mamãe batia palmas como uma foca e eu respondia “Palmas!”.

Eu pensava que isso tudo havia sido superado, mas daí veio 2020 como uma bofetada para me provar que o colégio fica marcado na nossa vida para sempre e às vezes até volta a fazer parte da vida ativamente. Esse ano, não bastou ter que limpar muito a casa, porque o povo não pode sair e fica circulando por aí e sujando tudo, eu virei professora do maternal e assistente de professora do terceiro ano do ensino fundamental. Nas horas não vagas também trabalhei, digamos, por mim mesma (ou pelas minhas contas). Do cargo de professora do maternal me demiti correndo. Tudo que eu propunha aquela pequena ser humana respondia: "ahhhhhh?????.....não!". Desisti, público muito exigente.


Já do cargo de auxiliar de professora do terceiro ano eu não pude fugir (não que eu não tenha tido vontade). Foi duro, mas recebemos várias lições. Sonhei com a tabuada (de novo depois de 31 anos). Fiz muita caligrafia. Ensinei a dividir. Ensinei a não procrastinar, ensinei a importância das meninas no mundo, ensinei o valor do professor (porque mãe não é professora, assumir os dois cargos dá acumulo de função), aprendi a ter mais paciência (mesmo tendo perdido ela tantas vezes, nós sempre nos reencontramos). Hoje estou aqui escrevendo isso tudo, porque nós vencemos! Acabamos o terceiro ano! Sobrevivemos!

Quando apresentei minha dissertação de mestrado estava com um barrigão de 8 meses de gravidez e eu brincava: “vamos assim que ninguém tem coragem de dar nota baixa!” e agora quando eu faço uma autoavaliação de 2020, eu penso: “vamos assim que ninguém tem coragem de dar nota baixa!”

De alguma forma chegamos ao final de um ciclo, que talvez seja metade do final de um ciclo, mas que se assim for é meio do caminho.

Foi difícil, foi. Mas foi. 2020 foi distópico, destoante, distante, dissonante, mas foi.
 

#partiuquartoano

#partiujardim

#partiu2021

#aiquemedodocaralho

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