Rir é o melhor remédio!

 

Há uns 9 anos um casal de amigos convidou a mim e meu marido para sermos padrinhos de casamento deles. Não acreditamos em igreja e, atualmente, nem em estado, mas topamos.
Chegou o dia do chá de panela. Nossa filha mais velha tinha 2 meses. Fomos ao evento portando a bebê que mamava toda hora. Lá pelas tantas fui trocar ela no banheiro. Quando voltei, dei a bebê para o meu marido, pendurei a mochila com um mundo de coisas, que pais de primeira viagem carregam, na cadeira e sentei. Na verdade, eu não sentei, eu caí. Com o peso da mochila a cadeira virou. Eu não vi e sentei na não cadeira. Um pé da maldita cadeira bateu nas minhas costas e doeu, mas a dor moral, sem dúvida, foi bem mais lancinante. Para ser um pouco mais indiscreto, o cenário da queda não podia ser pior. O chá de panela era em um salão paroquial enorme em uma cidade do interior, com as mesas dispostas em "u". A noiva abria seus presentes no meio. Não preciso dizer que roubei a cena, né? Por um momento (para mim, nem um pouco breve) a atração deixou de ser a noiva e passou a ser eu. Logo eu que estava tentando ser discreta, que nunca me liguei em casamento, nunca curti cerimoniais desse tipo, virei uma atração do evento. Um monte de convidados, incluindo a mãe do noivo, vieram me socorrer. Se as mesas ao menos não fossem em "u" o escândalo não tinha sido tão grande. Passados uns 20 minutos da humilhação pública eu e meu marido tivemos uma conversa telepática e concluímos que era hora de ir embora. Algo como: o vexame do mês já está pago. Partiu?

Uns 2 meses depois foi o dia do casamento. Eu tinha tido nenê fazia 4 meses, não estava na minha melhor forma. Não quis gastar dinheiro em roupa e peguei um vestido emprestado com uma amiga. E uma cinta. E uma meia calça que apertava a barriga e levantava a bunda. O vestido era rosa choque. Me vesti e me senti uma salsicha fantasiada de babaloo (o chiclete, é claro, jamais a Letícia Spiller), mas era o que tínhamos a oferecer no momento e nada podia ser pior do que o tombo que eu tinha levado no chá de panela. Fomos ao casamento, passada a cerimônia, muitos e muitos e vários convidados vieram falar comigo. Perguntavam se eu tinha ficado bem depois do tombo e comentavam que bom que eu tinha dado a bebê para o meu marido antes de cair, se não podia ter sido pior. Ou seja, passado os dois meses, os convidados dos noivos não tinham esquecido o meu pequeno acidente, isso significa que provavelmente eles nunca vão esquecer.

Esses dias contei essa história para minhas amigas e nós tivemos um ataque de riso. Eu nunca tinha contado, pelo menos não com essa riqueza de detalhes. Acho que era uma ferida mal cicatrizada. Em algum momento a gente aprende que tem ser inteligente (mas não demais), bonita, bem-sucedida, industrialmente sexy, midiaticamente sensual, arrumadinha, discreta e certinha. Fora inteligente nenhum desses adjetivos combinam muito com atrapalhada, descoordenada, desajeitada, desastrada. E eu sou tudo isso e mais um pouco. Nunca seria a mulher que nos vendem. Brinco que não nasci para usar salto alto, nem lingerie de renda. Sou aquela de tênis e calcinha de algodão. Talvez, por isso, por não lidar tão bem quanto eu gostaria e por conflitos internos que me acompanharam por tanto tempo que eu nunca tivesse trazido essa história a tona. Já pensou que louco se nascêssemos sabendo que não somos padronizadas e podemos ser um pouco de tudo ou nada de coisa alguma? Que somos pessoas únicas e não são elementos externos que dizem como devemos nos vestir, portar e ser?

O fato é que eu e minhas amigas rimos até chorar comigo relembrando aquele momento. E em meio as gargalhadas vinham as perguntas e comentários: Sério que tu caiu no meio do chá de panela? Meu, não to acreditando que tu conseguiu chamar mais a atenção que a noiva! Imagina tu lá no altar e as pessoas comentando: Olha aquela de vestido apertado rosa chiclete é a madrinha que te falei que se esborrachou no meio do chá de panela!

A risada é algo cativante. A capacidade de ter um ataque de riso em situações tensas não é fuga, é gás para viver. Eu adoro ter ataques de riso, eu amo fazer os outros rirem. Amigo que é amigo chora junto e no meio do choro acha motivo para rir, para dar um respiro para tristeza. Rir é cicatrizante e o rir de si mesmo cura as feridas das imperfeições que todos temos, mas alguns sabem maquiá-las melhor, e abre espaço para as outras tantas que certamente virão, afinal as cicatrizes compõem nossa essência, ajudam a formar nossas digitais internas.

Quando o mundo não está dando muitos motivos, rir das pequenas coisas do dia a dia e buscar na memória motivos para gargalhar já é reconfortante.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fica bem 2023

A pontezinha do Sakae's

Rituais de final de ano