Quarentei na quarentena!

 

Quarentei na quarentena. Virei quarentona da quarentena. Trocadilhos infames a parte, com total egocentrismo, tenho teorias que essa foi uma peça pregada aos nascidos em 1980. Nós que tanto nos orgulhamos de ser da geração Atari, que fizemos bolhas nos pés de tanto pular em Pogobol, que sonhávamos com Lango Lango, almejávamos ter um Murphy, que somos filhos da anistia, quarentamos em quarentena. Sem festas de arromba, sem aglomeração, sem junção, com um pinguinho de saudade da liberdade que a nossa geração tanto desfrutou. Só pode ser pegadinha do destino (apesar de não acreditar em destino).

Mas vamos ao fatos, ao que eu imaginava para os meus 40 anos e a realidade do que tive.
Quando criança, lá com meus 5 anos, imaginava que aos 40 anos eu seria uma velhinha, sem dúvida 40 anos era a idade de alguém muito velho. Com o passar do tempo aprendi que velho é quem tem 20 anos mais do que a gente. Tive certeza disso certa vez conversando com minha vó. Ela me disse “Viu que fulano morreu? Nem era velho!”. Perguntei quantos anos a pessoa em questão tinha ela me respondeu “Tinha 79!”. Minha avó tinha 81.

Aos 20 imaginava que aos 40 minha vida estaria resolvida por completo. Profissionalmente eu seria super bem sucedida, pessoalmente também (sim, nessa época ainda acreditava que a vida podia ser compartimentada em seções) e financeiramente eu teria, se pá, meu jatinho. Hoje acho que a vida só se resolve por completo quando a gente morre.

Em janeiro desse ano eu pensava que faria uma mega festa com espaço kids e tudo (sim, às vezes o que mães mais almejam é um espaço kids). Por sorte veio a pandemia e eu não pude fazer uma mega festa por questões sanitárias e não por questões econômicas.

Semana passada eu pensava, que se pudesse escolher, eu queria passar meus 40 anos no spa do vinho dentro de uma piscina de ácido botulínico e sauna de ácido retinoico. Como já inventaram o spa do vinho, mas não piscina de ácido botulínico, nem sauna de ácido retinoico e estamos em meio a uma pandemia banhada por uma crise econômica isso também não foi viável.

Passei meus 40 anos, com a presença física das pessoas que mais amo no mundo inteiro e por sorte estão confinadas comigo, a minha família. Recebi mensagem e ligações de várias pessoas queridas e chamadas de vídeo das que sinto mais falta de abraçar nesse período de isolamento social o que, sem dúvida, aqueceu meu coração quarentão. Teve bolo, teve comida boa e vinho bom. Dado o contexto nada poderia ser melhor.

Hoje me sinto jovem como a democracia brasileira, mas bem mais conservada. Entro nos quarenta sendo da geração mais nova a lembrar o que era inflação, fome, subnutrição, desigualdade social abismal. Descobrindo o que é censura de estado e sem saudade nenhuma das filas do Carrefour para encher o carrinho de latas de óleo, do freezer para estocar carne. Preferiria não apresentar pessoalmente essas coisas às minhas filhas, mas parece que não será possível. Apesar de tudo como alegria, sarcasmo e ironia fazem parte de mim seguirei por aqui deixando minhas sinceras impressões sobre a sociedade contemporânea. Não tá morto quem peleia!

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