De SAC para SAC


Esses dias cheguei a conclusão que sou o SAC da família. Todo e qualquer problema que surja, inclusive entre membros da família vem parar em mim. Ela me bateu! O carro tá pingando óleo. Minha luz não tá funcionando. Sabe cadê meu óculos? Não acho meu pijama. A privada entupiu. Acabou o queijo. Papai não faz a gente dormir do mesmo jeito que tu. Definitivamente sou o serviço de atendimento ao cliente. Toda e qualquer reclamação, informação, sugestão passa por mim. Mas isto não é uma reclamação é apenas uma constatação. Até porque se fosse uma reclamação eu teria que fazer pra mim mesma e seria muito complexo. É mais uma observação de como construímos nossas relações e eu sou peça fundamental para me autodenominar o SAC familiar. Em nenhum momento me neguei a exercer o cargo, pelo contrário, em dadas ocasiões assumi funções por que quis. Meu lado controlador (que é beeeemmmmm grande) se beneficia da função que exerço, as coisas sempre acontecem do jeito que eu quero. Mas quando aceitei ser o SAC familiar, nunca me ocorreu que teria uma pandemia e o serviço seria prestado 24 horas por dia. Sempre soube que não teria folga, nem férias, mas estava tudo bem. A pandemia fez com que os clientes estivessem 24 horas por dia lembrando do SAC. Nenhumas horinhas fora de casa para darem um tempo. Mesmo que fossem turnos alternados, era um cliente a menos para lidar, mas agora é todo mundo junto o tempo todo.

Há uns dias a nossa vizinha (com quem não temos o menor contato além de um educado “bom dia”, “boa noite”)bateu palmas na frente de casa. Fui em direção à porta e pela janela vi que era ela. Quase me atirei no chão e sai de gatinho em direção contrária. Na verdade, engatei uma marcha ré torcendo para que ela não me visse e não fui atender a porta. Me fiz de louca. Entrei em pânico quando vi aquela senhora, pensei: vou virar o SAC da vizinhança!
Ela continuou batendo palma. Não ia dar para ignorar. O pessoal do SASAC (serviço de apoio ao SAC), meu marido (que com a pandemia e a loucura toda tem tornado-se mais sensível a causa do SAC), foi ver o que estava acontecendo.

Eles conversaram por alguns minutos e eu, controladora, tentava ouvir, mas não conseguia. Depois dos intermináveis minutos de curiosidade, recebi o memorando oral do que se passava. Ela também estava em home office, não aguentava mais ficar em casa. Comentou que queria até um motivo pra se maquiar (ainda hoje acho que ela deixou passar a oportunidade de se maquiar quando foi nos chamar). Conversa fiada passada, o problema apareceu. Supostamente nossa lareira fazia muita fumaça e estava atrapalhando a vida dela. A roupa toda estava ficando com cheiro de fumaça, ela não podia abrir as janelas. O SASAC informou a ela que resolveríamos a situação a médio/ longo prazo, mas a curto prazo não tinha nada que pudesse ser feito. A nossa sala é gelada, velha e úmida. É frio e úmido para caramba no inverno aqui em Porto Alegre e temos duas crianças que brincam nessa sala, que não podem ir ao colégio, que passam o dia ali, usufruindo daquele espaço. A vizinha saiu feliz, fez sua reclamação, se sentiu atendida, mas eu comecei a pensar: Faz 6 anos que moramos aqui, ela nunca reclamou. Sempre usamos a lareira e isso nunca foi um problema, porque agora teria se tornado? Esse ano a lareira esteve mais ativa do que nunca já que não podíamos sair. Por outro lado a vizinha também nunca ficou tanto em casa, ou seja, o problema era a nossa convivência tão próxima ainda que distantes e sem se falar.

Outro dia quando tive que sair para ir ao dentista a vi colocando o varal de chão estendido no jardim da frente com roupas dela e da filha. Quando voltei ela entrava em casa cheia de sacolas de super e me dei conta que a vizinha é o SAC da família dela também.

Semana passada ouvi uma pessoa batendo na porta, fui ver e era um entregador que precisava fazer a entrega de um cartão de crédito da vizinha. Considerei não receber o cartão, mas achei que não me custava nada fazer esse favor. Quando ouvi ela chegando chamei e entreguei a correspondência. Ela me agradeceu muitíssimo e disse que se eu não tivesse recebido teria sido uma mão reaver o cartão. Aproveitei e avisei que estava acabando frio e em breve resolveríamos o assunto da lareira. Depois que falei isso fez um frio do cão, choveu uma semana sem parar e a lareira funcionou loucamente, mas acho que de SAC para SAC ela me entendeu e eu entendi ela.

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