A corrida mais difícil do mundo

 

Entre mil programas, séries e filmes que 2020 nos obriga a assistir (obrigada 2020), eu e meu marido assistimos “A Corrida Mais Difícil do Mundo: Eco-Challenge Fiji” no prime vídeos. Consiste basicamente na corrida de aventura mais difícil do planeta. São 600 quilômetros em Fiji que devem ser completados em no máximo 11 dias. Mais de 60 equipes de diversos países, cada uma composta por 4 atletas com obrigatoriamente ao menos uma mulher, competem entre si para completar a prova. O simples fato de terminar o percurso já é por si só grande feito. Alguns trechos são feitos a pé, outros de bicicleta, outros remando e mais um tanto nadando. Nesse meio tempo ainda tem rafting, rapel e escalada. Cansa só de assistir.
Depois de ver aquela gente se matando, nos animamos e resolvemos voltar a correr na rua. Eu há muitos anos corro, mas faziam 6 meses, em função da pandemia, que não saia para correr. Não fiquei sedentária nesse meio tempo, comprei até um negócio que transforma uma bicicleta normal em uma que não sai do lugar, pulei corda, fiz treino de força, mas, sem dúvida, perdi um pouco da minha capacidade física. Não, não sou uma atleta (bem pelo contrário), mas tenho uma relação, digamos, conflituosa com a balança desde criança e sempre faço algum exercício. Quando começo a fazer odeio, mas no final da atividade me sinto bem, deve ser a tal da endorfina, serotonina e todas as “inas” que nos dão sensação de bem-estar.

Correr na rua em meio a pandemia, com o coronavírus circulando por aí, nos obrigou a fazer adaptações para minimizar riscos. Primeiro escolhemos uma rota diferente, onde usualmente não tem muita gente circulando a pé. Nosso caminho é de 5 km e envolve muitas subidas e descidas. Apelidamos ela de Fiji, porque somos pretensiosos. Provavelmente nunca teremos dinheiro para fazer “A Corrida Mais Difícil do Mundo: Eco-Challenge Fiji” e nem forma física, mas deixa a gente sonhar. A segunda adaptação significativa foi correr de máscara de proteção e isso sim é muito difícil. Cada vez que você puxa o ar aquele pano cola na boca bloqueando a entrada de oxigênio, o negócio é bem ruim. Você puxa ar e vem pano, puxa ar e vem pano e gás carbônico e um pouquinho de oxigênio. O lado bom é que o Brasil vem nos preparando para isso desde 2015. Nos últimos anos viver aqui é como correr de máscara. Você pensa que vai respirar e vem um golpe pra tapar sua boca. Pensa que vai respirar e uma reforma trabalhista rouba seu oxigênio. Pensa que vai respirar e um facínora é eleito presidente e tira todo seu ar. Pensa que vai respirar e vem uma pandemia que deixa você sem fôlego. Pensa que vai respirar e o preço do arroz deixa entrar só o mínimo de oxigênio para que você fique vivo. Pensa que vai respirar e ouve o discurso mais mentiroso e vergonhoso de todos os tempos tampando sua boca e o ar não entra. Pensa que vai respirar e o número de mortos pela pandemia deixam você sempre arfando e procurando por oxigênio.

Talvez já estejamos fazendo a corrida mais difícil do mundo faz tempo. Brasil país do futuro nos preparando há anos para viver sem respirar direito. O coronavírus colocou a metáfora em prática.

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