Minha amiga travou

Essa loucura toda pandêmica e epidêmica clínica e política pela qual passa o Brasil afeta todas as pessoas. Não há quem saia imune. Há uma ansiedade enorme, que cresce em meio à incerteza completa. Normalmente quando a ansiedade pega, o que mais queremos é uma boa mesa de bar, uma cafeteria, algo do genêro, para trocar uma ideia com uma amiga. Marido não resolve, pai não resolve, mãe não resolve, filho não resolve, quem resolve é amiga.
Mas daí vem o distanciamento social e o bar, o café e até mesmo a amiga em casa fica inviável. Claro que graças a tecnologia temos alternativa para driblar isso. Dá pra falar com as amigas pelo zoom, pelo wahtsapp, pelo skype. Aliás,  a internet é uma coisa maravilhosa. Imagina que saco deve ter sido a peste bulbônica ou a gripe espanhola?
No Brasil até a questão da internet é polêmica. 1 em cada 4 brasileiros não tem acesso a internet, ou seja, 1 em cada 4 brasileiros está passando pela gripe espanhola, e  o pior, sem saber.  Quem tem internet sabe que ela não é lá essas coisas. É cara e o serviço prestado não é assim, digamos, uma maravilha. Com mais gente trabalhando de casa, estudando de casa e precisando falar "casamiga" de casa a demanda é grande e a qualidade do serviço vai ladeira abaixo.
Muitas coisas atualmente me incomodam. O próprio fato de poder estar em qualquer lugar do mundo passando por uma pandemia, mas estar em um dos piores no combate ao vírus, com um chefe de estado maluco que acredita em um medicamento sem comprovação científica, é algo bem desagradável.
Conversar com as amigas nesse momento ajuda muito. Ajuda por poder desabafar, por colocar  a gente pra cima, por dar apoio, por ter um contato externo. E o que acontece quando você marca um happy hour digital com amiga? A amiga trava! Você está lá contando uma história pra ela e quando vê ela está por mais de 10 segundos com a mesma cara. Das duas uma: ou você é uma chata e não gera emoção nenhuma ou a  amiga travou. Ou o contrário a amiga está lá falando, falando e para com a mesma cara no meio da frase e o pior é que quando ela volta, vem tudo o que ela falou em velocidade rápida, uma confusão. Fica aquele suspense e depois vem toda a informação correndo, não dá nem tempo de processar, é que nem quando apressam fim de novela.
Amiga não tem o direito de travar. Eu quero muito que as amigas destravem. Em barzinho quando a amiga está travada é por que consumiu psicotrópicos em excesso. Nos aplicativos sempre fica aquele suspense: ela consumiu alguma coisa e eu perdi? a internet falhou? ela está fingindo porque eu estou muito chata?
Eu lá precisando falar do ministro da saúde que caiu, da minha menstruação, do número de mortos, do ensino a distância, da corda que comprei pra pular, dos piores países no combate ao covid 19 e ela está como? Está travada.  Ás vezes mando aúdio ou por escrito no whatsapp, mas tem dias que ela recebe 5 horas depois.
Se não está fácil pra falar com as pessoas através da internet, imagina estudar? Eu já fico nessa ansiedade toda com a amiga travada, numa casa confortável, com 300 mega de velocidade imagina um adolescente de 16, 17, 18 anos se preparando para o ENEM com uma internet ruim vendo o professor travar? E quando o professor volta o que era difícil de entender já se tornou completamente impossível. Ou ainda pior, um adolescente em uma casa com outras 10 pessoas e sem internet? Eu sou professora eu travo, meus alunos travam, é tudo muito confuso.
Sei que compaixão e empatia não estão muito em voga na sociedade brasileira, em especial, no desgoverno brasileiro, mas o que estão fazendo com esses jovens (e com consciência completa do que está sendo feito) é roubar-lhes o sonho de uma vida melhor, é roubar a sua esperança. Mas temos que lembrar que é exatamente isso que esse desgoverno de dementadores planeja: sugar todas as coisas boas que temos. Por isso, como mãe, como professora, como ser humano ainda humano, digo a esses jovens: gritem, esperneiem e contem conosco para que não lhes roubem o futuro. Não se deixem contaminar por essa gente! O mundo tá travado, o Brasil então, nem se fala, estamos num nível Nicarágua, Bielorrússia, Turcomenistâo (já fica o tema e descubram o que temos em comum com esses países), mas lutem porque vocês são bem mais capazes do que o ministro da educação e o despresidente e não são filhos de papai como esse desgoverno trata seus próprios filhos.

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